A construção de um mandato

Rodrigo Rollemberg 1

Artigo: A construção de um mandato, Fernando Jorge

Fernando Jorge C Pereira

O ocaso de Roriz, abatido por problemas de saúde e idade avançada sem deixar herdeiros à sua altura; o encerramento precoce da carreira de Jose Roberto Arruda, atingido pela Justiça; a derrocada devastadora de Agnelo e do PT, levando de roldão Magela, que seria o único a alimentar aspirações majoritárias no partido; e Fillipeli, ex-vice-governador que se deixou contaminar no curso do governo deixam Rollemberg praticamente sozinho em qualquer antecipação de cenários da futura disputa por sua reeleição, sugerindo um mandato de oito anos no Buriti para o atual governador.

Dentre os nomes oposicionistas que sobram e que poderiam vir a aspirar o cargo, nenhum parece ter estatura para enfrentar um jovem governador que chegará à reeleição experiente, de perfil moderno, que não se envolveu em falcatruas, que ama indiscutivelmente Brasília (designação que dá a todo o DF) e que mostre liderança e capacidade de conciliar, se necessário, e de ser assertivo se as circunstâncias o exigirem.

Sua maior fragilidade é, talvez, a estrutura partidária que o abriga. O PSB não conseguiu eleger nenhum deputado e sua ossatura será importante na reeleição. Os quatro anos que antecedem o pleito, todavia, é tempo bastante para que se cuide, com calma e propriedade, deste problema, e não faltarão alternativas de fortalecimento dentro do próprio partido que abriga diversas figuras no governo que poderão ser projetadas, por mérito de seus desempenhos pessoais, e se tornarem ativos eleitorais relevantes.

Os riscos, que certamente existem, são de três ordens e a questão é o quanto poderão ficar sob controle e serem evitados.

O primeiro deles, por óbvio, é o de ter um desempenho administrativo comparável ao de Agnelo. Isso, convenhamos, é realmente difícil. Acreditamos que por muitos anos, Agnelo será a referência do mau governo, de descompromisso e irresponsabilidade administrativa. Mudar essa imagem lhe custará muita energia. Tê-lo sucedido, portanto, representa enorme vantagem comparativa em qualquer quadro de disputa eleitoral.

O segundo risco, xipófago do primeiro, é o de contaminar seu governo com a marca petista. Tanto os resultados eleitorais colhidos pelo PT no DF – onde Dilma apanhou, o governador não foi ao segundo turno e sua bancada parlamentar desidratou-se – quanto o atual ânimo dos eleitores do DF em relação ao partido (a rejeição ao PT no DF beirou 40% em fevereiro deste ano contra uma simpatia em torno de apenas 8%) já seriam suficientes para recomendar um prudente distanciamento de imagem, mais ainda com as últimas denúncias do petrolão que erodem ainda mais a avaliação da legenda. Se, como governador, permitir essa contaminação de imagem, por proximidade ou leniência, Rollemberg pode atrair para si enorme rejeição do eleitorado, abrindo um perigoso flanco ao ataque dos adversários. Alguns cuidados óbvios de gestão e posicionamento, a composição cuidadosa dos quadros governamentais e uma estratégia de encorpamento de seu próprio partido serviriam de antídoto contra aquele risco.

O terceiro risco deriva do eventual descolamento de certos aliados estratégicos, notadamente do senador Reguffe, cuja popularidade continua robusta e que, com alianças certas, poderia representar um risco real à eventual candidatura Rollemberg. Muitos não acreditam nisso e acham que tal confronto não corresponde à índole do senador. Todavia, especialmente em política, nunca se deve descurar dos riscos nem se distrair com a guarda.

Cedo demais, Reguffe vem manifestando descontentamento com o governador e nisso parece estar, muitas vezes, sendo apoiado por seu companheiro de partido, Cristovam Buarque, que estará também com seu mandato em jogo. Pode não significar nada e é cedo para prever resultantes quanto a esse cenário, mas ele recomenda uma atenção especial a esse fator, e lembremos que – no meio de seu mandato de 8 anos – a disputa seria uma aventura com poucos riscos para Reguffe.

Não se pode deixar de ter em mente, finalmente, que as cobranças do senador são prematuras e infundadas. Rollemberg tem, necessariamente, que priorizar a missão de por ordem na casa, organizar suas finanças e calibrar a máquina sob inúmeros aspectos antes de partir para suas realizações. Tem prazo finito, todos sabem, mas este não pode ser o de alguns poucos meses de gestão. A pressa e açodamento de Reguffe podem, inclusive, comprometer sua chance de se tornar alternativa de poder e sua ética, incontestável, há de valorizar a lealdade e o compromisso com os planos comuns mais do que os projetos e ambições pessoais. Mas a verdade é que – e isso vale para todos – quem quer disputar uma eleição não pode se mostrar apenas no ano do pleito. A eleição começa muito antes.

Sociólogo, Diretor da O&P Brasil

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