O apartamento em Brasília da primeira-dama de Minas Gerais, Carolina Oliveira Pimentel, mulher do governador Fernando Pimentel, foi um dos alvos na manhã desta sexta-feira da Operação Acrônimo, da Polícia Federal. A ação foi deflagrada para combater lavagem de dinheiro por meio de um esquema de sobrepreço e de recebimento por contratos não executados com o governo federal desde 2005.
Carolina tem um apartamento em Brasília desde o tempo em que trabalhava na assessoria de imprensa no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior na mesma época em que Pimentel era titular da pasta.
A corporação não informou o que foi apreendido na residência, que fica na quadra 114 Sul, na região central de Brasília. No total, 30 endereços de pessoas físicas e 60 empresas de Minas, Rio Grande do Sul, Goiás e Distrito Federalforam incluídas na operação.
O delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado, Dennis Cali, disse pela manhã que não havia nenhuma autoridade com prerrogativa de foro ou partido político sendo investigado. “Até o momento o governador Pimentel não é alvo da investigação.” Em nota, a Secretaria de Comunicação do Estado de Minas Gerais disse que o governo mineiro “não é objeto de investigação neste processo”.
De acordo com Cali, há 30 empresas sendo investigadas. Uma delas teria tido faturamento de R$ 465 milhões. Quatro homens foram presosem flagrante suspeitos de envolvimento no esquema. Policiais encontraram mensagens trocadas entre os suspeitos que indicavam a prática de crimes.
Além disso, a corporação apreendeu ainda mais de R$ 100 mil em espécie e 12 carros de luxo no Distrito Federal, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Goiás. Um avião avaliado em R$ 2,5 milhões também foi apreendido.
Entre os presos estão Marcier Trombiere Moreira, servidor de carreira do Banco do Brasil que trabalhou, na campanha do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT); o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, dono de uma gráfica que também prestou serviço para a campanha do governador petista e que, em 2010, chegou a ser investigado por supostas ligações com a produção de dossiês contra candidatos do PSDB; e um homem identificado como Pedro Medeiros.
Os três já haviam sido detidos em outubro do ano passado, quando a PF apreendeu um jatinho no Aeroporto Juscelino Kubitschek que transportava R$ 113 mil. A aeronave é a mesma apreendida na operação desta sexta. Cali afirmou que documentos apreendidos pela PF demonstraram que os homens mantinham a associação criminosa mesmo após a ação. A pena para associação criminosa é de 1 a 3 anos de prisão.
A Polícia Federal esteve na casa do ex-deputado Virgílio Guimarães (PT), no bairro Sion, região centro-sul de Belo Horizonte, para cumprir mandado de busca e apreensão. Nenhum detalhe do cumprimento do mandado foi divulgado.
Procurado pelo G1, o ex-deputado disse que a Polícia Federal esteve “com toda educação” na casa dele. Segundo o petista, a PF apreendeu dois telefones celulares e um netbook dele. O ex-parlamentar disse que a PF também foi à casa da ex-mulher no bairro Funcionários, na região centro-sul de Belo Horizonte. “Eu não sei o que levaram de lá”, disse.
O ex-parlamentar afirmou que não tem relação com o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto. “Eu não tenho o menor conhecimento disso [esquema de lavagem de dinheiro]”, disse ao G1. Guimarães afirmou não ter sido comunicado de ser investigado.
‘Laranjas’ e dinheiro fracionado
De acordo com a Polícia Federal, para ocultar a origem criminosa do dinheiro, os investigados usavam com frequência “laranjas” e fracionavam os valores em partes menores, manobra que é conhecida como “smurffing”.
Eles também se valiam de uma manobra conhecida como confusão patrimonial, quando em um mesmo espaço funcionam várias empresas. “Isso visa justamente dificultar a responsabilização e identificar quem é o dono da empresa”, disse o delegado.
Cerca de 400 policiais federais foram envolvidos na operação desta sexta. O nome da operação faz referência ao fato de o prefixo da aeronave na qual foi localizado o dinheiro ser uma sigla formada pelas iniciais dos nomes dos familiares dos principais investigados.
Na apreensão do ano passado, quando começou a investigação, a Polícia Federal abriu um inquérito para apurar suposta lavagem de dinheiro. À época, a Coligação Minas Pra Você, de Pimentel, informou que Moreira e a gráfica de Oliveira Neto foram desligados com o fim da campanha eleitoral.
Ao longo dos oito meses de apurações, os policiais analisaram dados obtidos em notebooks, smartphones, tablets e outros dispositivos eletrônicos apreendidos com os suspeitos. Os investigadores analisaram mais de 600 gigabytes de informações e as cruzaram com outras fontes de base e dados. Fonte : G1