Fernando Brant, autor de Travessia, morre aos 68 anos

Clube da Esquina

Foto: Divulgação

 

Morre Fernando Brant, escritor e compositor mineiro
Em 1967, Milton conseguiu convencer o então hesitante Brant a escrever sua primeira letra. Era “Travessia”, composição que, no mesmo ano, ganhou o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro

NATHÁLIA LACERDA
Morreu às 21h20 desta sexta-feira (12), aos 68 anos, no Hospital das Clínicas, o jornalista, escritor e compositor mineiro Fernando Brant, depois de complicações em uma cirurgia de transplante de fígado.
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O velório acontece neste sábado (13), no cemitério do Bonfim. O sepultamento está marcado para o fim da tarde. Segundo familiares, a intenção é que amigos, músicos e artistas que moram em outras cidades tenham tempo para se despedir.

Fernando Brant estava internado no Hospital das Clínicas da UFMG desde segunda-feira, quando se submeteu a um primeiro transplante. Após uma semana internado, ele teve que ser submetido a um segundo procedimento, mas não resistiu. Ele já havia se submetido a outra cirurgia, há dois anos, para a retirada de um tumor no órgão.

De acordo com a filha, Ana Luiza Brant, 39, a equipe médica deu toda a assistência. “Fomos muito bem tratados. Ele entrou para sala de cirurgia super confiante”, disse. O compositor deixa três filhos: duas mulheres de 39 e 37 anos respectivamente, e um rapaz de 25 anos, além de dois netos e a esposa. O velório será aberto ao público.

Fernando Brant é de uma família de 10 filhos, seis homens e quatro mulheres. Ele é o primeiro a morrer.”É uma perda tão grande. Vamos demorar para assimilar a morte do meu irmão. Ele veio fazer o transplante andando, sorrindo. Vai ser uma ausência muito dolorosa. Era uma pessoa muito especial, única”, diz a irmã Vina Brant, 50 anos.

Clube da Esquina:

No início dos anos 60, Fernando Brant conheceu o amigo Milton Nascimento. Em 1967, Milton conseguiu convencer o então hesitante Brant a escrever sua primeira letra. Era “Travessia”, composição que, no mesmo ano, ganhou o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, funcionando como o estopim da carreira de sucesso de Milton. Em 1969, conseguiu trabalho como jornalista na revista “O Cruzeiro”.

Nesse mesmo ano, em Belo Horizonte, Brant e os amigos começaram a articular o projeto que se tornaria o Clube da Esquina. A parceria com Milton, Lô Borges, Tavinho Moura e outros membros do Clube mostrou-se muito produtiva, gerando mais de 200 canções, entre as quais há clássicos como “San Vicente”, “Saudade dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)”, “Ponta de Areia”, “Maria, Maria”, “Para Lennon e McCartney”, “Canção da América” e “Nos Bailes da Vida”, entre muitas outras.

Fernando Brant gravou um depoimento para o Museu do Clube da esquina contando sobre seu envolvimento com o grupo:

Complicações clínicas:

Fernando Brant foi diagnosticado com câncer no fígado há três anos, e foi submetido a uma cirurgia para retirada do tumor. No entanto, novos tumores foram descobertos este ano. Os médicos aconselharam o transplante.

A cirurgia ocorreu na segunda-feira quando ele recebeu um novo órgão, vindo de um doador de 15 anos.

Já na terça-feira, uma das artérias do fígado entupiu, necrosando o órgão e liberando toxinas no organismo. Os médicos então decidiram submete-lo a um novo transplante, após a localização de um outro doador. No entanto, o músico não resistiu ao novo procedimento e morreu na noite dessa sexta-feira.

Primeira história:

No Livro “Os Sonhos Não Envelhecem – Histórias do Clube da Esquina”, o autor Márcio Borges assim descreve o primeiro encontro entre Milton Nascimento, o Bituca, e Fernando Brant, apresentados por uma amigo em comum:

“Contaram e recontaram seus parcos trocados.Davam para duas cervejas e um ovo cozido. Bastante. Em torno dessa duas cervejas e do ovo cozido, dividido irmamente por Bituca (extraordinário!), os dois conversaram a tarde inteira e fizeram amizade. Fernando gostava de poesia, sabia de cor versos inteiros de García Lorca e Fernando Pessoa. Era sorridente e bem-humorado. Estava gostando muito de conhecer um músico, um compositor. Antes de se levantarem, Bituca perguntou:

– E você escreve?

– Escrever o quê? Contos, essas coisas?
– Você escreve poemas como os que acabou de recitar?
– Eu nunca escrevi nada
– Então vai ter que escrever.

Assim, combinaram de se encontrar outro dia para tentar realizar a tal empreitada. Nenhum dos dois sequer poderia imaginar as estupendas conseqüências daquele encontro casual, que fizera cruzar a linha de suas vidas.
Escute algumas de suas composições mais importantes:

Personalidades lamentam perda nas redes sociais:

“Meus sentimentos à familia desse grande e querido parceiro e amigo, Fernando Brant”

– Lô Borges

“Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coraçao 🎵 Fernando Brant, parceiro querido de tantas belas cancoes, partiu em sua travessia para outra vida. ✨ Um menino, um moleque morando sempre em nosso coração…”

– Vermelho, do grupo Quatorze Bis

“Estou chocado com a morte do cantor, quem ele respeitava e via como um símbolo da música brasileira. “É muito significativa a presença dele na música brasileira. É difícil falar. Ele deixou uma história muito bonita. Participei recentemente, ao lado de Brant, na releitura da música Travessia, gravada em conjunto com os músicos Felipe Fantone e Lenis Rino, em coletânea produzida em homenagem a Milton Nascimento. Para mim é um marco especial da minha vida ter feito essa releitura de Travessia. É muito simbólico para mim em todos os sentidos”.

– Pedro Morais

“Foi embora não só um super compositor, um parceiro, um amigo e uma referência para toda a minha geração. Faltam palavras e sobra tristeza. Obrigado por tudo Fernando Brant”.

– Flavio Henrique, cantor e compositor, via Facebook

“Forte eu sou mas não tem jeito , hoje eu tenho que chorar…..foi-se mais que o autor de uma das músicas mais lindas da historia desse país…na sua Travessia Fernando Brant.”

– Ronaldo Fraga, estilista, via Facebook

“Acabo de ficar sabendo da morte do compositor Fernando Brant. Acho que vamos levar um tempo pra entender o que isso significa pra música brasileira. Tínhamos várias discordâncias ideológicas, já discutimos mais de uma vez por desavenças relativas à legislação de direitos autorais e ao sistema de arrecadação, mas eu sempre reconheci e me inspirei no seu trabalho como letrista e como um dos articuladores do Clube da Esquina. Ficamos todos mais tristes aqui hoje!”

– Makely Ka, cantor e compositor, via Facebook

“Porque a vida é feita de Encontros e Despedidas. Meu querido tio, que fez do meu pai América Mg Futebol e consequentemente me fez também. Como diria vc, ainda continuo com a estranha mania de ter fé na vida. Mande notícias do mundo de lá…. saudades eternas”

– Ana Clara Brant, jornalista e sobrinha de Fernando Brant, via Facebook

“Foi com profundo pesar que recebi a notícia da morte do amigo e compositor mineiro Fernando Brant. Eu e minha família nos solidarizamos com o seus familiares e amigos.”

– Nilmário Miranda, Secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social do Estado de Minas Gerais, via Facebook

“Triste ao saber da morte de Fernando Brant , gigante da poesia do Brasil, homem gentil e generoso. Ontem mesmo aqui na Australia falavamos do clube da esquina. sad to hear about the death of Fernando Brant, giant of brazilian poetry, gentle and generous man.”

– Alda Resende, cantora, via Facebook

“Ainda estupefato pela notícia, acaba de morrer o mais importante letrista mineiro …Fernando Brant … Triste 2015 …”

– Pablo Castro, cantor e compositor, via Facebook

“Acabo de receber a notícia da morte do meu querido amigo Fernando Brant. Fernando foi, durante décadas, um grande companheiro. Partilhamos os mesmos sonhos de Minas e de Brasil. Estivemos juntos em muitas lutas e partilhamos as mesmas esperanças. Grande poeta. Grande brasileiro.
Com muita tristeza, faço silêncio nesse momento, manifestando a minha homenagem e enviando, com emoção, o meu abraço à sua família, ao Roberto, ao Paulo e aos amigos do Clube da Esquina.
Essa é a imagem do meu último encontro com o grande mineiro, ocorrido em Belo Horizonte, há algumas semanas.”

– Aécio Neves, senador

“Passei uma semana em Diamantina, a cidade para onde Fernando Brant (nascido em Caldas) se mudou, aos cinco anos, ouvindo e cantando aquelas belezas todas que ele criou com Milton e seus outros parceiros. Estou desolado.”

– Ricardo Aleixo, poeta

“Meu amigo e parceiro Fernando Brant esse diamante de Minas Gerais agora é uma estrela!!!Há-de-o!!!Travessia”

– fala do violonista Gilvan de OIiveira através do WhatsApp.

“Morreu Fernando Brant, pai de Travessia, uma das mais belas letras da nossa música popular brasileira.”

– Padre Fábio de Melo, pelo Twitter

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