Documentos do Ministério Público e da Polícia Civil trazem detalhes do suposto envolvimento da deputada distrital Telma Rufino (PPL) com um grupo acusado de lavagem de dinheiro para financiamento de campanhas eleitorais no Distrito Federal. As investigações da Operação Trick revelaram trechos de conversas dela com o dono do supermercado Tatico. A TV Globo tentou falar com a parlamentar, que não quis comentar o assunto dizendo que ainda não prestou depoimento.
As escutas telefônicas são de fevereiro do ano passado e mostram Edigar Éneas da Silva, que segundo a apuração era o operador do esquema, explicando para Tema como ela deveria conversar com o empresário Abadia Tatico. “Depois que contar isso aí, tá perdendo a liderança, que você pode falar que gastou os cartão… Aí você dá uma choradinha de leve (sic).”
Dois meses depois, Telma fala com Silva que “o administrador tá lá com o cara, com o presidente da Terracap (sic)”. Para a polícia, a conversa seria com o ex-administrador regional de Ceilândia. Para a Polícia Civil, Telma diz que conversou com o empresário e que arrumaria para ele comprar o terreno.
O grupo Tatico foi o maior doador da campanha da distrital. A página de prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral mostra que, dos R$ 592,2 mil recebidos por ela, R$ 361 mil vieram da empresa Itatico Comércio de Alimentos.
A Operação Trick cumpriu, em abril deste ano, 36 mandados de busca e apreensão e 32 mandados de condução coercitiva, que é quando o suspeito é levado para a delegacia para depor. Entre os investigados estavam deputados, funcionários do Banco do Brasil e laranjas. A polícia identificou 55 empresas fantasmas, que pegavam empréstimos. O dinheiro entrava na conta dos suspeitos, que usavam notas frias para comprovar os gastos. O prejuízo é estimado em R$ 100 milhões.
Nas escutas telefônicas, Telma diz ao suposto operador do esquema que o gerente do banco disse não ser possível abrir a conta. “A vistoria foi lá, a superintendente não, como é que fala, foi lá e a empresa não existe, o galpão tá fechado (sic).” A polícia diz considerar que a conversa deixa claro que Silva e a deputada montaram uma empresa de gaveta para pegar empréstimos.
O Partido Pátria Livre (PPL) disse que a deputada está suspensa desde 8 de maio. A medida vale por 60 dias, mas pode ser prorrogada. A comissão de ética do partido analisa um processo de expulsão. Apesar disso, Telma Rufino continua trabalhando normalmente na Câmara Legislativa.
A Terracap informou em nota que a deputada já esteve na empresa para discutir assuntos fundiários, mas nega que tenha falado do lote em Ceilândia. De acordo com a empresa, o terreno não pertence à Terracap.
A TV Globo tentou contato com o empresário Abadia Tatico, com o ex-administrador de Ceilândia Ari de Almeida e com Edigar Enéas da Silva, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.