A importância da OAB e da advocacia
É sempre um desafio prazeroso poder escrever uma mensagem sobre as perspectivas
da advocacia. Nós sabemos que todas as carreiras, indistintamente, podem servir de
instrumento para realização de transformações e melhorias individuais e coletivas.
Entretanto, sem medo de errar, podemos afirmar que é na advocacia que encontramos
o campo mais fértil para a concretização de transformações da realidade. Os
advogados são, antes de qualquer outro profissional, diuturnamente convidados a
reescrever os fatos a partir de seu ofício.
Muitos dos direitos reconhecidos pelo judiciário ou das iniciativas transformadas em lei
nasceram do inconformismo de advogados, agindo no interesse da concretização do
direito de seus constituintes. A defesa dos interesses de seus clientes é uma missão
que requer grande sensibilidade e responsabilidade.
Pode ser que muitos enxerguem o comprometimento necessário para a resolução dos
problemas de outros como um simples encargo. Felizmente, essa não é a visão dos
advogados e advogadas que seguem em constante aprimoramento profissional para
influenciar a realidade em favor de seus constituintes. Também por isso, há muitas
outras legítimas expectativas que são dirigidas aos advogados.
Da advocacia se espera um papel de protagonismo na busca dos interesses da
cidadania como um todo, principalmente em tempos de crise política, institucional e
econômica como a que vivemos. O momento atual é muito especial para advocacia,
que é chamada a se posicionar sobre temas importantes. Por isso, teremos pela frente
grandes batalhas que deverão ser respondidas através de posicionamentos firmes.
No centro do debate nacional estão em pauta dois assuntos intimamente ligados: a
corrupção e o financiamento espúrio de campanhas eleitorais, cujo resultado mais
perceptível é a falta de representatividade de nossa classe política. Não há dúvidas
que tais questões atingiram um patamar inaceitável para nossa sociedade. Somos
todos os dias ultrajados pela realidade exposta nos jornais.
Se a corrupção nos envergonha enquanto cidadãos e expõe, de forma clara, nosso
fracasso enquanto nação; a influência financeira nos processos eleitorais é uma chaga
que ofende o alicerce democrático, porque retira a liberdade necessária ao eleito que
passa a depender de quem o elegeu. Quem define uma eleição através do aporte
financeiro logo apresentará a fatura.
Cabe aos advogados lutar intransigentemente para extirpar a corrupção e a influência
eleitoral da paisagem nacional, em qualquer nível de atuação. Essa, aliás, é uma luta
para todos os cidadãos brasileiros.
Nesse ponto, deve ser destacado o papel fundamental que a advocacia pública
desempenha no combate à corrupção e a sua correta luta por autonomia funcional e
financeira que, seguramente, resultaria em ganho de eficiência no combate preventivo
Devemos estar atentos também para que não sejam permitidos excessos contra
aqueles advogados que atuam na defesa de acusados em processos criminais. O
combate à corrupção não pode servir de desculpa para justificar as recentes tentativas
de criminalizar os profissionais que atuam em prol da administração da justiça e
auxiliam na garantia de julgamentos justos. A experiência jurídica nos indica que
quando foi cerceada a liberdade de atuação de advogados criminais toda a sociedade
pagou um alto preço.
Mas temos que ir além, devemos fomentar a criação de ferramentas capazes de
realizar concretamente o direito das pessoas. Para isso, teremos muitas possibilidades
de influenciar, a partir de nossa atuação, uma nova concepção de processo
estabelecida pelo Novo Código de Processo Civil.
Não podemos nos esquecer da incessante luta por condições dignas de trabalho para
os advogados públicos e privados. Precisamos de instrumentos claros e efetivos que
assegurem a inserção no mercado de trabalho, as condições dignas para realização
de suas atividades com independência técnica e a justa remuneração pela atividade
desenvolvida. São muitas batalhas em várias instâncias, mas todas convergem para a
criação de estruturas adequadas para que os advogados possam atuar de forma
E, indo ainda mais além, deveremos participar das batalhas descritas acima e de
muitas outras por demanda dos cidadãos ou da sociedade, sempre atuando de forma
altiva e ética. E faremos isso por reconhecer que a função da advocacia, em situações
de crise, é perseguir incessantemente a justiça.
Délio Lins e Silva Júnior, advogado, mestre, doutorando e professor
universitário.