Mostra Toninho de Souza – 52 Anos de Artes
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Mostra Toninho de Souza 52 anos de artes começa hoje, dia 10 de novembro e vai até o dia 22 de dezembro, na Galeria do Anexo IV do Centro Cultural da Câmara dos Deputados. Texto de apresentação de Carlos Magno.
Um poeta é um poeta
“Jardins do Inconsciente”
Um poeta será sempre um poeta. Poderá nunca ser um pintor. Um pintor, mesmo que não escreva, é um poeta. Nessa medida, Toninho de Souza é pintor e é um poeta. Transmite poesia em cores fortes, abstrações absolutas e metáforas pictóricas.
Um artista que insiste de maneira obstinada a pintar a natureza da aldeia em que vive: Sobradinho, em Brasília. Brasília, capital plantada no cerrado goiano. Envolta pelo habitat de araras, tucanos e pela terra domada que, generosa, dá o fruto a quem dele necessite. A melancia.
A temática regional de Toninho de Souza transcende a percepção do seu povo e atinge de maneira dramática, impactante e comovedora as pessoas que guardam na memória uma Natureza que lhes diz respeito em outro país, em outro continente. Então, a arte de Toninho de Souza se universaliza.
A universalização da arte se dá quando ela toca o subconsciente de todos que são emocionados por ela. As cores puras e formas definidas da pintura do artista sofreram, com o amadurecimento e refinamento técnico, uma abstração radical e peculiar. Apesar da geometrização absoluta, a sugestão da melancia, o bico das araras e dos tucanos permanecem, assim numa lembrança constante. As cores vibrantes exacerbam o sentimento libertário dos cerrados, natureza resistente e bela. E ameaçada.
A nova mostra da arte de Toninho de Souza muito bem denominada de “Jardins do Inconsciente” é um apelo. Mais, é um grito de chamamento.
Toninho de Souza vai ao profundo abstrato com círculos que são os milhares de olhos ansiosos da Natureza. Os presentes arcos de bicos permeiam numa tentativa de um rascante e desesperado canto da Natureza resistindo como pode. O artista como que joga um inconsútil véu transparente sobre vasos com as araras, tucanos e talhas de melancia, tema recorrente, representando flores reservadas para um outro tempo. Uma tentativa de resguardar o bioma do cerrado em vasos para quando os jornais puderem noticiar que melancias, tucanos e araras estarão salvos. O suporte em páginas de jornal é uma lembrança que remete à manchete que se espera.
Toninho é um pintor e um poeta. É um ativista universal.
Carlos Magno de Melo – Poeta. 2020.
Fotos: Clauder Diniz