Governador faz balanço de seus três anos no Buriti. Ele acredita que reverterá rejeição e se reelegerá
Por Orlando Pontes
Nunca na História dos 58 anos de Brasília um governador enfrentou tantas dificuldades financeiras quanto Rodrigo Rollemberg. Igualmente, jamais um ocupante da cadeira mais importante do Palácio do Buriti se dispôs a dar um basta no déficit de caixa cortando investimentos e despesas com a folha salarial de forma tão drástica.
Mas isto tem um custo político, que se reflete em altos índices de rejeição à sua gestão, de acordo com os institutos de pesquisa. Ainda assim, Rollemberg demonstra otimismo ao avaliar suas possibilidades de reeleição no próximo mês de outubro. “Tenho convicção de que, ao nos aproximarmos das eleições, ao contextualizar as coisas que fiz e comparar com outros governos passados e até de outros estados, o alto índice de rejeição será revertido”, diz ele.
Nesta entrevista ao Brasília Capital, Rollemberg faz um balanço de seus primeiros três anos de governo, enumera as dificuldades que tem enfrentado e apresenta suas realizações. “Nosso legado vai ser uma cidade cidadã, uma cidade legal e que vai semear um novo modelo de desenvolvimento”, projeta. “Temos que levantar o astral, e o aniversário é uma boa oportunidade para isso”, conclama o governador.
Caso não consiga se eleger, este será seu último ano no governo. Qual o legado o senhor deixará para Brasília? – Nosso legado vai ser de uma cidade cidadã, uma cidade legal e que vai semear um novo modelo de desenvolvimento. Desobstruímos a orla do Lago Paranoá, que havia sido privatizada e que agora pode ser usufruída por toda a população. Nós estamos democratizando a orla do lago Paranoá. Isso é um exemplo de cidadania. Estamos transformando comunidades sem nenhuma infraestrutura em cidades com tratamento que essas pessoas merecem. Completamos nesta semana 50 mil escrituras entregues nas diversas cidades do DF. Temos um governo sem nenhuma denúncia de corrupção envolvendo o primeiro escalão. Vamos inaugurar, em maio, oParque Tecnológico de Brasília. Ou seja, nós estamos construindo novo modelo de desenvolvimento para a cidade. Isso é um salto de cidadania.
De acordo com as pesquisas eleitorais, seu índice de rejeição é muito alto. A quê o senhor atribui essa avaliação negativa? – É uma rejeição à política. São exemplos de corrupção envolvendo membros do governo federal, do legislativo, inclusive local. Com isso, na visão das pessoas, a classe política em geral atrapalha e lhes traz um sentimento de indignação. A população, nesse momento, não diferencia os políticos. E aqueles que estão em maior evidência acabam sofrendo rejeição maior. Outros políticos têm uma agenda menor do que a minha e estão com índices de rejeição próximos dos meus. Eu tive que tomar medidas impopulares, difíceis, e enfrentei o corporativismo. Outra parte disso veio do primeiro ano da minha gestão, pois tomei atitudes severas para deixar a economia da cidade de pé. Tenho convicção de que, ao nos aproximarmos das eleições, ao contextualizar as coisas que fiz e comparar com outros governos passados e até de outros estados, o alto índice de rejeição será revertido.
Recentemente, ao sair de um restaurante, o senhor discutiu com duas mulheres que o criticaram e perguntou se elas preferiam a turma da Lava Jato. Este será o tom de sua campanha? – Em tempos de Operação Lava-jato e Caixa de Pandora, quem tem que avaliar esses assuntos é a Justiça e o Ministério Público. Tivemos uma situação financeira muito ruim no encerramento do governo passado. Será que foi correto construir um estádio tão caro como o Mané Garrincha? Esse dinheiro poderia ser investido em escolas, em hospitais, em viadutos. Essas questões terão que ser colocadas na mesa e debatidas.
O Centro Administrativo foi inaugurado no fim do governo passado e o senhor se recusou a cumprir o contrato. Não é um desperdício manter aquilo fechado? O que o senhor vai fazer com o Centrad? – A suposta inauguração do Centro Administrativo acabou gerando processos contra o ex-governador. Não tinha habite-se, não tinha Relatório de Impacto de Trânsito. Estava longe de estar pronto. Virou um imbróglio jurídico. Estamos analisando e conversando com o Ministério Público para analisar as melhores alternativas.
O senhor conseguiu equilibrar as contas para poder apresentar esse feito na prestação de contas aos eleitores na campanha de outubro? – Só poderemos dizer que estão 100% estabilizadas e afirmar isso no segundo semestre, pois depende da economia. Assumimos o governo com um rombo de R$ 6,5 bilhões. Em três anos reduzimos isso para R$ 1 bilhão, e temos condições de fechar o ano numa cena melhor. Estamos com uma situação financeira melhor do que muitos estados brasileiros. Nosso governo está com a maior redução de homicídios do Brasil e a maior redução de números de homicídios em um governo na história.
Há um ano, para enfrentar a crise hídrica, foi adotado o racionamento d’água. Mas as chuvas estão ajudando a encher os reservatórios. O senhor vai acabar o racionamento? – Vamos sim, e graças a um conjunto de fatores, como as captações de água que fizemos que já estão em funcionamento. São 1.400 litros de água por segundo. A estação de Corumbá ficará pronta até o fim do ano, produzindo 5 mil e 600 litros por segundo – metade para o DF e outra metade para Goiás. Esse será o legado do meu governo ao resolver o problema de falta d’água por pelo menos 20 anos. Em breve definiremos uma data para o fim do racionamento em Brasília. Porém, é importante ressaltar que o volume de chuva ainda está abaixo da média, pois choveu abaixo do esperado em outubro e em janeiro.
Sobre as eleições, o senhor ainda tenta atrair novos aliados para sua coligação? – Temos conversado com os partidos. Isso só se fecha nas semanas anteriores ao pleito. Estou tranquilo e tenho esperança de futuramente construir uma grande aliança em benefício de Brasília.
Os empresários dizem que a cidade está parada, que as empresas estão saindo de Brasília, e que não têm incentivos. Como o senhor pretende contornar as demandas dos empresários? – Estamos melhorando. Não está como queremos. Aprovamos leis que facilitam as construções e o crescimento da cidade e de incentivo aos empreendedores. Reduzimos o desemprego. Há uma retomada, ainda modesta, na atividade econômica no DF. Mas não é diferente do restante do Brasil.
O senhor tem retorno do que se passa por dois órgãos específicos – a Central de Aprovação de Projetos e a Agência de Fiscalização? É ali onde se concentram as maiores reclamações do setor produtivo… – Não é isso que eles dizem. Os processos da CAP têm melhorado muito. Temos um estoque aprovado imenso, que não está sendo executado em função da atividade econômica e da baixa demanda. Isso tudo contribui para melhoria da atividade econômica.
Paralelamente à questão do Hospital da Criança, o senhor também enfrenta o início das atividades do Instituto Hospital de Base. Como está essa questão? – No IHBDF tivemos uma grande vitória, com a liberação da seleção de novos servidores. Isso vai demonstrar o novo modelo vitorioso que vai ser exemplo para todo o Brasil.
Qual mensagem o senhor deixa para os brasilienses pelo aniversário de 58 anos da cidade? – Brasília passou por momentos difíceis, assim como todo o Brasil passou. Brasília tem demonstrado uma capacidade de crescimento muito grande. Temos que levantar o astral, e o aniversário é uma boa oportunidade para isso. A cidade é muito democrática e tem dado saltos civilizatórios. Melhoramos em áreas como a educação, a cultura, o meio ambiente, a ciência e tecnologia e o turismo. São ações que preparam a cidade para um novo modelo de desenvolvimento.