Gestão compartilhada leva escola de Sobradinho a viver novo momento
Medida proporciona diminuição nos casos de violência e bullying no Centro Educacional nº 3, que abriga mais de 1,7 mil alunos. Novo modelo agrada pais, que estão mais participativos.
RENATA MOURA, DA AGÊNCIA BRASÍLIA
Há duas semanas, quatro escolas da rede pública do Distrito Federal experimentam o modelo de gestão compartilhada com a ajuda de policiais militares. Entre elas está o Centro Educacional (CED) nº 3 de Sobradinho, que atende 1,7 mil alunos nos turnos matutino e vespertino. O sentimento na escola é de satisfação com a nova rotina, que trouxe mais disciplina e concentração por parte dos estudantes.
“Hoje, me surpreendo com um ‘com licença’, ‘senhora’, ‘obrigado’ e ‘por favor’, termos que não eram comuns entre eles. Parece simples, não é? Mas vocês não imaginam o quanto isso contribui em mudanças positivas por aqui”, avalia a diretora do colégio, Andreia Martins.
O espanto dela em relação à mudança de atitude dos estudantes está repleto de expectativa. “Entro nas salas e vejo a diferença. Alunos levantando a mão para tirar dúvidas. Professores conseguindo passar o conteúdo sem serem interrompidos para resolver discussões ou mesmo pedir silêncio”, explica.
Diretor disciplinar do CED 3, major Gislando Costa afirma que os resultados iniciais comprovam a aceitação por parte dos estudantes. “Mais de 90% receberam com naturalidade as novas regras e normas. E, melhor, os pais estão conosco. No último sábado, fizemos uma reunião com a participação de mais de 800 responsáveis. Os professores ficaram admirados com a presença maciça deles”, precisou.
O major comanda o grupo de policiais que trabalha no centro educacional. Todos juntos estão concentrados na nova missão de transformar a realidade dos alunos daquela unidade. “Queremos construir um ginásio para reforçar a prática de esportes entre eles. Corpo e mente devem ser trabalhados para o sucesso desses adolescentes. Vamos trabalhar para formarmos cidadão com perspectiva de um futuro melhor e, principalmente, para que tenham escolhas. Ser pedreiro ou engenheiro, mas que seja uma escolha e não a única condição”, afirma o oficial.
Parceria
As duas diretorias do Centro Educacional nº 3 de Sobradinho, a pedagógica e a disciplinar, trabalham em sintonia. Enquanto a professora Andreia Martins planeja com outros professores a parte pedagógica, os militares ajustam as questões administrativas e cuidam da conservação do ambiente. “Agora temos tempo para planejar. Estamos cheios de ideias para implementar. Queremos envolver mais as turmas. Nossa ideia é reforçar mais a interdisciplinaridade dos conteúdos com provas de questões discursivas”, propõe a diretora, que também é pedagoga.
Ela conta que a convivência da coordenação pedagógica com as diretrizes militares tem sido bastante harmoniosa. Logo nos primeiros dias, os professores pediram a permanência das “salas ambientes” e foram atendidos. “As aulas são programadas com Datashow, projetores, e alguns utilizam as salas como laboratório de química e física. Então, aqui, nossos alunos é que trocam de sala de uma aula para outra. Explicamos isto para os policiais, que organizam essas trocas sem passar de três minutos”, explica Andreia Martins.
O tempo gasto no troca-troca de sala de aula é economizado com horas-aulas de mais qualidade. “Aos poucos, os alunos têm compreendido a necessidade de fazerem a troca de sala com agilidade. Se perdem tempo na troca de sala, perdem aula. Estamos constantemente lembrando eles disso. E tem dado certo. Agora, não gastam nem três minutos”, avalia o major.
Combate à violência
O clima é realmente outro o Centro Educacional nº 3, com silêncio nos corredores, organização e participação em sala de aula. Em 15 dias de gestão compartilhada, não houve registros de brigas ou ocorrências mais grave. “Aqui já encontramos drogas dentro do banheiro. A falta de respeito era grande, não se respeitavam. Avalio que os casos de bullying reduziram em 90%. Com o comportamento melhor, nossa expectativa é que tenhamos notas e desempenho dos alunos bem melhores, também. É algo natural. O professor está conseguindo dar aula e os meninos, de forma bem organizada, conseguem sanar as dúvidas”, diz Andréia Martins. Renata Moura, da Agência Brasília