GDF não para nem à noite

Reportagem da Agência Brasília mostra alguns dos inúmeros trabalhos que os servidores do governo executam, às vezes madrugada adentro

Reforma e revitalização de tesourinhas avançam por noites e, às vezes, madrugadas em tempos de pandemia | Foto: Joel Rodrigues / Agência Brasília

Quando escurece e a maioria dos brasilienses volta para o aconchego do lar, um movimento coordenado tem início todos os dias no Distrito Federal, sem que boa parte da população perceba. É quando começa a rotina dos servidores escalados para dar continuidade aos serviços que o Governo do Distrito Federal presta à comunidade diuturnamente (veja mais no vídeo abaixo). E, aí sim, o resultado do trabalho fica mais do que perceptível. Torna-se evidente.

300 pessoasacolhidas em dois abrigos no DF

Além dos atendimentos considerados essenciais – casos da Segurança Pública, da Saúde e da Educação –, o governo oferece ao morador do Distrito Federal um cardápio de serviços que funcionam à noite e, muitas vezes, até mesmo de madrugada.

Da repintura de uma sinalização de via ao acolhimento de pessoas em situação de rua. Da sanitização de hospitais e unidades de pronto atendimento (UPAs) a orientações da Secretaria DF Legal sobre medidas de combate à Covid-19, como o uso de máscara facial protetiva. O GDF nunca para.

A reportagem a seguir se propõe a mostrar alguns dos inúmeros trabalhos que nossos servidores executam ao cair da noite ou madrugada adentro.

Detran: fluxo menor de carros, melhor sinalização de vias

Enquanto uma massa de servidores do Departamento de Trânsito (Detran-DF) descansa ao cair da noite, equipes da Diretoria de Engenharia de Trânsito fazem justamente o contrário. De domingo a domingo, grupos de trabalho passam a noite espalhados pelas cidades do Distrito Federal, recuperando estruturas viárias ou preparando novas sinalizações nas vias.

O serviço é feito à noite devido ao menor fluxo de carros nesse turno. Um dos responsáveis por esse trabalho é Roberto Luz. Há quatro anos na função de gestor do contrato de sinalização horizontal, ele e sua equipe atuam nas vias do Plano Piloto, do Sudoeste e da Octogonal.

Devidamente agasalhado – mas sem descuidar da identificação com o Detran-DF, simbolizada no colete –, Roberto e sua equipe passam a madrugada corrigindo defeitos na sinalização das vias ou refazendo a pintura dessas pistas.

Equipes do Detran-DF passam a noite espalhadas pelas cidades do DF recuperando ou preparando novas sinalizações nas vias | Foto: Joel Rodrigues / Agência Brasília

Na quinta-feira (25/6) eles se concentraram na marcação da tesourinha da 103/104 Sul. No dia seguinte, depois de passar por uma reforma geral, o conjunto de retornos acabaria liberado para o trânsito pelo governador Ibaneis Rocha, entusiasta do serviço público.

Com o apoio de um grupo de dez funcionários e dois caminhões, cada um equipado com um tipo de tinta, os servidores precisaram de quatro horas para deixar o trecho entre a 103-104/203-204 Sul sinalizado com faixas contínuas e pontilhadas, além da faixa de contenção para o fluxo que passa pelas alças da tesourinha.

Com um olhar no trabalho e outro na entrevista, Roberto confessou o amor que sente pela função que desempenha no Detran-DF, e enfatiza a importância do serviço. “O trabalho é gratificante porque você dá uma dimensão, uma segurança muito grande para o trânsito. Brasília é uma das melhores cidades do país em sinalização”, elogia o gestor.

SLU x coronavírus: redondezas de hospitais, UPAs, paradas e passarelas mais limpas

De segunda a sábado, geralmente após as 19h, caminhões-pipa do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) percorrem hospitais e unidades de pronto-atendimento (UPAs) no DF. O objetivo principal é a lavagem, com vistas à desinfecção, das áreas ao redor.

O que pouca gente sabia é que o produto lançado no chão desses espaços públicos é capaz de eliminar todo tipo de bactérias, fungos e vírus, como o novo coronavírus, causador da Covid-19. Apesar de letal para os micro-organismos, a substância não afeta o ser humano e tem cheiro agradável. “Lembra muito eucalipto. O cheiro é bom”, compara Milton Barbosa dos Santos, motorista da Valor Ambiental, uma das corporações parceiras do GDF na prestação dos serviços.

As equipes do SLU empregadas na sanitização dessas áreas coletivas também são divididas em regiões. A reportagem acompanhou o trabalho do grupo de trabalho capitaneada por Milton no Hospital de Base.

Hospital de Base é constantemente desinfectado pelos servidores do SLU | Foto: Joel Rodrigues / Agência Brasília

Por volta das 19h30 do dia 23 de junho, uma terça-feira, o caminhão-pipa encostou na Emergência da unidade hospitalar. Como uma equipe de automobilismo, em que os movimentos são sincronizados, enquanto um funcionário ateava o produto químico no chão, outro mirava a mangueira e disparava o jato d´água para retirar o excesso do produto.

O trabalho da equipe do SLU era acompanhado de perto pelo olhar curioso do motorista Nonato Ribeiro, 55, que esperava um amigo em atendimento no Hospital de Base. “Achei interessante. Principalmente agora, em tempos de pandemia. Tem de intensificar mesmo esse trabalho”, apoiou o morador do Gama.

Naquele mesmo dia outras equipes do SLU faziam, simultaneamente, o mesmo serviço em unidades de saúde do DF. Além do Hospital de Base, passavam pelo mesmo processo de sanitização o Hospital de Planaltina, o Materno-Infantil, o Universitário e as UPAs de Santa Maria e do Gama, além da Unidade Básica de Saúde do Recanto das Emas.

DF Legal: fiscalização a pleno vapor mesmo à noite

Mesmo em tempos de pandemia de Covid-19, o DF Legal não esquece das outras áreas sob sua responsabilidade. Além dos grupos de trabalho para fiscalizar o cumprimento das medidas do GDF contra a pandemia, espalhados pelas 33 regiões administrativas, outras equipes são incumbidas da fiscalização contra a grilagem de terras e o despejo irregular de entulho em locais públicos.

Não pode haver comunicação sobre as intervenções – obviamente, o objetivo é surpreender cidadãos em eventual descumprimento de regras ou leis. Ou seja, os trabalhos não têm hora para acontecer. Por isso, os fiscais trabalham em regime de plantão e entram em ação a qualquer momento do dia ou da noite. Ou da madrugada.

Agente do DF Legal flagra venda de churrasco que gerava aglomeração de consumidores, um risco de proliferação de coronavírus | Foto: Joel Rodrigues / Agência Brasília

O foco, porém, continua a ser o enfrentamento ao coronavírus, mas os grupos são orientados a não afrouxar a fiscalização de infrações relacionadas a outras questões. As equipes do DF Legal estão por todas as partes.

Na terça-feira (23/6), um grupo liderado pelo chefe do DF Legal, Gutemberg Tosatte, participou da operação Vita Salutem  (Proteção de Vidas), coordenada pela Secretaria de Segurança Pública contra o tráfico de drogas na Estrutural. A equipe de  Gutemberg percorreu as ruas da cidade e vistoriou o comércio a fim de impor o cumprimento das medidas contra a pandemia.

A ação começou por volta das 21h daquela terça e durou até o início da madrugada da quarta-feira. Diferentemente dos primeiros trabalhos, mais focados em orientar comerciantes, os fiscais do DF Legal determinaram o fechamento de 11 estabelecimentos que insistiram em descumprir o horário de funcionamento, mantendo-se abertos após as 21h.

ASSISTA AO VÍDEO:

Outros comerciantes não possuíam alvará de funcionamento e também tiveram suas atividades encerradas. Um exemplo é o churrasco na Quadra 4 da Estrutural. Apesar de não servir comida no local, o proprietário mantinha a churrasqueira acesa na frente de sua loja, dando origem à aglomeração de pessoas.

Um dos clientes dele é Denis Marinho, de 34 anos. Além de estar fora de casa sem necessidade, desrespeitando as orientações de distanciamento social, ele estava sem máscara protetiva e acabou por ser repreendido pela fiscalização. Mesmo contrariado por não poder comer o espetinho de carne, ele concordou com a ação. “A máscara incomoda, mas é importante para a minha integridade”, admitiu.

Governo pelos mais necessitados

Desde que foram inaugurados, em abril, alojamentos provisórios instalados no Autódromo de Brasília e no Estádio Maria de Lourdes Abadia (Abadião), em Ceilândia, não param de receber novos moradores. As duas casas abrigam cerca de 300 pessoas em situação de rua e está de portas abertas 24 horas por dia, para receber mais cidadãos carentes.

Na noite de quinta-feira (25), o Alojamento do Autódromo acolheu mais 11 pessoas que vivem nas ruas. De várias partes do Distrito Federal, esses homens terão agora três tipos de refeição, diariamente, e um quarto com cama e cobertor para se abrigarem e protegerem do frio típico do Cerrado nesta época do ano.

Abrigos populares do DF dão dignidade a pessoas desprovidas do básico, como comida, banho e local para dormir decentemente | Foto: Joel Rodrigues / Agência Brasília

Ao desembarcar no alojamento, eles passam por uma triagem em que é aferida a temperatura corporal, a fim de saber se estão com febre, sintoma predominante em pessoas com Covid-19. Em seguida são colocados em um compartimento onde aguardam os kits de higiene e roupas – o conjunto reúne escovas, creme dental, sabonete, toalha, calça, camisa, cueca e coberta. Já de posse desses produtos, os acolhidos são dirigidos a banheiros e vestiários onde tomam banho e trocam de roupa. Uma verdadeira transformação pessoal, com ainda mais dignidade.

Cosme da Silva, 39, passou a integrar o grupo juntamente com outros dez moradores de rua abordados por equipes da Secretaria de Desenvolvimento Social e encaminhados para o abrigo popular. Ao verificar a estrutura do lugar, o homem ficou impressionado. “Muito organizado”, sintetizou. Depois de 27 anos, relata Cosme, é a primeira vez que ele tem um lar com direito a cama e cobertor. “Saí de casa com 12 anos para procurar emprego e acabei ficando nas ruas. Essa pandemia me fez ter medo das ruas. Então, aqui vou estar seguro”, alivia-se.

Uma das coordenadoras do Alojamento Provisório do Autódromo é Karen Cury. Foi ela quem recebeu os 11 novos moradores e os conduziu durante as etapas que teriam de cumprir naquela verdadeira cidade erguida nos fundos do autódromo, em meio ao nada. “Aqui eles têm de tudo. Aulas com professores de matemática e português, cinema, refeição, banho, cama. É um lugar de dignidade”, descreve.

Acolhimento com aspecto de lar

Na Unidade de Acolhimento de Crianças e Adolescentes (Unac) de Ceilândia a chegada de novos moradores geralmente também é feita à noite. Diferentemente dos abrigos provisórios, lá os abrigados devem ter até 17 anos e 11 meses e 29 dias. A capacidade de acolhimento é de até 16 jovens. Ao completar 18 anos, eles têm de deixar o lugar – a maioria volta para a família. Geralmente são jovens encaminhados pelo Conselho Tutelar e pela Vara da Infância e Juventude.

Além do acolhimento em si, abrigados recebem alimentação balanceada e praticam atividades lúdicas e pedagógicas para melhorar a rotina | Foto: Joel Rodrigues / Agência Brasília

Situado na QNM 36/38 de Taguatinga, o abrigo tenta reproduzir as instalações de uma casa, com quarto mobiliado de cama e guarda-roupa, além de cozinha e sala. “A intenção é dar aos jovens a sensação de famílias que muitos não tiveram”, explica a coordenadora da unidade de acolhimento, Flávia da Guia.

Além de apreender a desempenhar tarefas de casa, como ajudar a conservar o local limpo e a fazer sua própria refeição, os adolescentes recebem tarefas pedagógicas e lúdicas praticamente o dia inteiro. “Aqui promovemos jogos e dinâmica de grupos. Estimulamos a arte, como pintura”, exemplifica a gerente da Unac de Ceilândia, Dione Marly Barbosa.

As lições pedagógicas são dadas pela educadora Cristiane Shimabuko. Pedagoga, ela é a responsável por preparar os jovens da Unac para o mercado de trabalho, por meio de programas do Governo do Distrito Federal como o Jovem Candango, da Secretaria da Juventude.

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As lições são ministradas à noite. João Victor da Silva Prado Santos, 17 anos, tinha uma entrevista no dia seguinte e pegava umas dicas sobre como proceder durante a sabatina. Cada ato seu era corrigido por Shimabuko. “Se fizer assim, pode ser reprovado amanhã”, alertava a orientadora.

Vindo de Formosa, o jovem chegou a Brasília sozinho e chegou a morar na rua. Hoje, pensa em voltar a estudar e arrumar um emprego para se sustentar quando sair da casa onde vive com outros jovens na mesma situação. “Aqui temos tudo: comida, casa e dignidade. Algo que não tinha nem na minha família”, lamenta o jovem.

Já passava das 21h de quinta-feira (25/6) e a casa ainda estava com as luzes acesas. Naquele dia, o abrigo receberia mais um morador. Trata-se de um jovem retirado do convívio dos antigos tutores porque era submetido a situação análoga à escravidão. Agora, com o projeto do GDF, ele terá um lar humanizado onde terá condições de estudar. Em outras palavras, poderá sonhar com um futuro melhor.GALERIA DE FOTOS

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ARY FILGUEIRA, DA AGÊNCIA BRASÍLIA | EDIÇÃO: FÁBIO GÓIS

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