O primeiro emprego em meio à crise

*Arnaldo Luiz Miró Rebello

Primeiro vem a escolha. É quando cada jovem encara seu próprio futuro e se pergunta onde quer estar quando olhar para trás em cinco ou dez anos. Depois, vem o caminho, que não é o mesmo para todos e pode ser muito mais sinuoso para alguns. Cursar uma faculdade ou um curso técnico, participar de eventos, especializações ou workshops, preparar-se para o que se encontra quando as possibilidades acadêmicas se esgotam e é preciso entrar no mercado de trabalho.

Começar uma carreira nunca foi tarefa simples. Mesmo em tempos de pleno emprego, há o desafio de obter uma formação que esteja alinhada com as expectativas das empresas, além de conseguir a experiência necessária na área desejada. Há um universo de opções à disposição, mas nem todas levam ao sucesso profissional. Além disso, a forma de exercer o trabalho está mudando radicalmente – e não apenas devido à pandemia. As empresas estão se modificando em uma velocidade que a formação dos jovens não consegue acompanhar. Tradicionalmente, sair da academia para o mercado de trabalho é um choque.

Com a crise econômica causada pela pandemia de Covid-19, esse cenário só piorou. De acordo com a Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 25% dos jovens entre 15 e 25 anos não estavam estudando nem trabalhando ao fim de 2020. A taxa é a maior dos oito anos da pesquisa. Os números são um retrato geral das dificuldades encontradas por esses jovens para se inserir no mercado. Devido à pandemia, houve um enxugamento significativo no mercado de trabalho e a oferta de oportunidades ficou muito mais restrita.

Mas esse não é o único obstáculo. Há muita desigualdade no processo de formação e capacitação do jovem que vai para o mercado de trabalho, um fosso que se abre violentamente entre uma parte da geração que está digitalizada e outra, que, mesmo que esteja no ensino superior, não tem acesso a toda a riqueza do mundo digital. Essas diferenças de oportunidade se aprofundaram de forma exponencial no último ano, quando a tecnologia deixou de ser parte essencial do trabalho para tornar-se, em muitos casos, o trabalho em si.

E outras alterações irreversíveis no desenho do mundo do trabalho estão tão presentes quanto a tecnológica. Ao longo do último ano houve avanços extraordinários na cultura organizacional das empresas, no uso de tecnologia e relacionamento das companhias com fornecedores, colaboradores e concorrentes. Esse movimento é muito difícil de acompanhar, do ponto de vista da formação. A velocidade é tão grande que a maior parte dos profissionais só vai aprender na prática a dominar as muitas linguagens que se apresentam.

Como garantir, então, que nossos jovens possam, no futuro, orgulhar-se, e não lamentar, as escolhas que estão fazendo neste momento de crise? É preciso ampliar o acesso a programas de estágio e aprendizagem e aproximá-los cada vez mais das instituições educacionais em que esses jovens estão inseridos. Para que alcancem objetivos concretos é fundamental oferecer oportunidades concretas, de modo que eles possam sentir como seu próprio perfil se encaixa nas opções locais. Para que aprendam a moldar seu próprio talento é imprescindível que eles estejam em empresas que permitem essa adaptabilidade à nova realidade de funcionamento. Para que compreendam o que pode ser melhorado em seu desempenho, é indispensável que eles tenham contato com o mundo do trabalho antes que essa seja sua única opção.

Embora a crise seja também econômica, aqueles que escolhem sua profissão por dinheiro tendem a se decepcionar. E é aí que a importância do estágio torna-se ainda maior. O estágio continua sendo o mais importante mecanismo de acesso do jovem ao mercado de trabalho. Ele é um mecanismo de interação entre o processo de formação que esse jovem está recebendo e seu futuro profissional. É por meio dele que será possível identificar habilidades e experimentar alternativas dentro das empresas, reinventar-se, redescobrir-se e construir uma jornada única.

Essa transformação é parte do mundo do trabalho. Por paradoxal que possa parecer, neste exato momento, estamos vendo empresas tradicionais com muitas dificuldades, enquanto outras se constituem ou se redesenham de forma muito competente, rumo ao sucesso. O mundo hoje tem um vastíssimo leque de possibilidades e alternativas. Aqueles que tiverem capacidade de se adaptar a essa nova realidade serão os líderes dos tempos que estamos vislumbrando em tantos setores, basta que lhes ofereçamos as oportunidades.

*Arnaldo Luiz Miró Rebello é conselheiro do Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR) e reitor do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba)

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