“É no ambiente escolar que se dá todo processo de ensino e aprendizagem”
Secretária Hélvia Paranaguá comemora retorno das aulas presenciais em segurança e destaca o empenho da pasta na recuperação do deficit educacional
IAN FERRAZ, DA AGÊNCIA BRASÍLIA* I EDIÇÃO: CAROLINA JARDON
Acolhimento. A palavra foi repetida diversas vezes durante entrevista da recém-nomeada secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, à Agência Brasília. A atitude será o mote dos servidores da pasta para o retorno presencial das aulas na rede pública de ensino. Ela explica a preocupação do GDF com a segurança de toda a comunidade escolar, que envolve diretamente cerca de 460 mil estudantes.
Por isso, estão previstos escalonamentos, rodízio entre aulas on-line e presenciais, além de atendimento a protocolos rígidos de segurança contra a covid-19. Professora concursada, Hélvia Paranaguá reforça a necessidade de um trabalho individualizado aluno por aluno. “Teremos realmente o resultado das perdas – o que houve de perdas em termos de aprendizagem – mais concretamente, agora, com o retorno dos estudantes. O professor vai poder fazer o diagnóstico em sala de aula verificando quem teve aprendizagem melhor e quem não teve”, esclarece.
Além desse apoio que professores e servidores estão preparados para dar aos estudantes, a titular da pasta mostra que o governo se preparou ao longo da pandemia com a reforma de todas as escolas, construção de creches, vacinação do funcionalismo da Educação e higienização de escolas. E vem mais por aí: Hélvia Paranaguá anuncia a contratação de mais professores concursados. “Nós vamos zerar o banco de nomeações”, avisa. Essas e outras ações você confere no bate-papo com a gestora a seguir.
Tudo pronto para o retorno das aulas na rede pública? O que a pandemia ensinou aos profissionais da Educação?
A pandemia acelerou um processo da entrada da tecnologia na sala de aula, e isso ocorreu de uma forma realmente de trocar o pneu do carro com o carro andando. Nossos profissionais vinham aos poucos fazendo curso a distância na Escola de Formação Continuada, mas, da noite para o dia, com o decreto, com uma pandemia, com o primeiro caso de covid-19 no DF, tivemos que fazer um trabalho hercúleo para capacitar todos nossos professores com as ferramentas necessárias para uma aula remota. Não foi fácil, e agradecemos aos professores pelo empenho. Eles precisaram vencer uma série de barreiras de desconhecimento dessas ferramentas tecnológicas e entrar de cabeça nos cursos que a secretaria ofereceu para que o aluno recebesse a melhor educação possível.
E qual foi o maior desafio vencido durante a pandemia?
Essa transformação do professor preparado para aula presencial, para esse acolhimento, olhando nos olhos do aluno, sentindo, verificando as dificuldades, desde segurar o lápis até todo o processo de aprendizagem; de repente, isso foi cortado, foi uma ruptura. Sentiram professor e estudante, porque a escola faz esse entrosamento, é um trabalho onde o aluno se sente acolhido e o professor é o acolhedor. Esse retorno nesse momento é muito importante. Esse ambiente escolar, o estudante precisa retornar. É no ambiente escolar que se dá todo processo de ensino e aprendizagem de fato.
Ao olhar para o futuro, o que a senhora pensa em relação ao ensino, da creche ao ensino médio? Como recuperar o tempo perdido com a pandemia?
Teremos realmente o resultado das perdas – o que houve de perdas em termos de aprendizagem – mais concretamente, agora, com o retorno dos estudantes. O professor vai poder fazer o diagnóstico em sala de aula verificando quem teve aprendizagem melhor e quem não teve. Muitas crianças têm pais professores, pais com formação acadêmica maior, e muitos outros não têm. A defasagem, vamos identificar com os diagnósticos. Se necessário, vamos fazer enturmação para que o aluno não fique muito deslocado com outros que estão em processo de aprendizagem mais avançada. Todo esse cuidado, os profissionais da área da educação terão agora com esses estudantes.
Como as escolas vão resolver esse deficit educacional? Com aulas extras, contraturnos?
Cada escola vai verificar isso. Eles têm autonomia para isso, e temos profissionais preparados. Temos psicopedagogos, psicólogos para poder dar acolhimento a essas crianças. Temos crianças órfãs da covid-19, que perderam avós, amigos e tios. Crianças que agora precisam retornar para dar continuidade a esse processo de ensino e aprendizagem. Elas precisam e serão acolhidas emocionalmente. Estamos preparando a rede pública para acolher emocionalmente todos os alunos.
Então, dentro da sala de aula haverá mais diálogo, mais conversa com os alunos para ver como eles se sentiram nesse período afastados?
Sim, tivemos uma conversa com todas as diretoras e diretores das escolas, e o nosso mote nesse momento é acolhimento. Precisamos acolher essas crianças com muito carinho, amor; muitas vêm com traumas, problemas, com perdas. Disso a gente não abre mão, desse acolhimento, o olhar cuidadoso do professor com o aluno dentro da sala de aula. Tudo isso vai ser muito trabalhado dentro da sala de aula.
Especificamente para os alunos do ensino médio – que precisarão enfrentar logo mais um PAS [Programa de Avaliação Seriada] ou o vestibular –, há algum projeto?
A gente volta para o mesmo ponto. Tudo será feito a partir do diagnóstico. Os alunos do ensino médio, nós temos a impressão de que foram os que menos sofreram, porque dominam as tecnologias, sabem estudar sozinhos e não precisam tanto do acompanhamento do professor quanto um aluno de anos iniciais. Onde houver necessidade de reforço, as escolas vão atuar. Será um plus para que estejam preparados para o Enem e para o vestibular. Tudo estamos pensando e vamos aplicando ao longo do semestre.
E as crianças e adultos em alfabetização? A secretaria pensa em uma proposta educacional diferente para eles?
Na EJA [Educação de Jovens e Adultos], a gente tem essa preocupação. Inclusive houve aumento de novas matrículas da EJA. É bom por um lado, porque é o retorno daquele que em algum momento abandonou a escola, mas temos a preocupação porque não queremos que aumente o número de alunos da EJA. Queremos que eles não cheguem à EJA, que cumpram todo o período escolar dentro da idade, que não haja distorção de idade e série. Vamos entrar com materiais focados para a EJA.
E para o CIL [Centro Interescolar de Línguas], como será o funcionamento?
Ele volta depois de todos. Vamos começar com escolas regulares, depois vêm as escolas especiais. Aí vem o CIL, escola de música e outras da rede com esse objetivo. Elas vão começar na última etapa. Os CILs funcionam com aulas seguidas, já apresentaram projeto de ter aula intercalada – aula sim, aula não – para ter espaço para limpeza da sala de aula. Estamos tendo esse cuidado para que o aluno não entre num espaço que não esteja higienizado.
Que tipo de cuidado ou esforço a mais os professores devem ter com os alunos em sala após esse período de aulas exclusivas em formato on-line?
O papel do professor é fundamental em todos os aspectos, porque ele está ali no dia a dia com o estudante em sala de aula. A direção da escola mantém relacionamento muito entrosado com os profissionais. Escola é um ambiente muito acolhedor, então tudo isso vai ser repassado para a direção, todas as necessidades que ocorrerão nesse retorno. Vamos trabalhar uma a uma, por isso o escalonamento. Nós começamos com a educação infantil para sentir onde serão os gargalos, quais as dificuldades. Colocar 235 mil meninos [aqui a secretária se refere à metade do número de estudantes da rede pública, por causa do sistema de rodízio presencial nesse início de volta às aulas] num único dia nas ruas de Brasília não seria uma coisa muito boa, então a gente teve esse cuidado para evitar problemas de fila grande na porta das escolas, para verificar a temperatura corporal. Queremos fazer o melhor controle de entrada, se uns entram antes ou depois. É uma liberdade que damos para as escolas.
Com o sistema de rodízio, as aulas on-line devem continuar até quando? É um formato que veio para ficar? A secretaria pretende expandir turnos e contraturnos nesse formato?
Não podemos precisar uma data. Com a presença do estudante, poderemos verificar situação por situação. Não dá para dizer “olha, em agosto está 100%, em outubro está 100%”! Estamos tendo cuidado com isso, e futuramente, quando houver ampliação, à medida que a sociedade sentir segurança, todos vacinados, os casos de covid-19 diminuírem bastante, com o feedback das outras áreas, a gente vai ampliando, mas não tem ainda um plano de ampliação. No momento, vamos lidar com o que foi colocado.
Como será a retomada para os alunos do ensino especial?
A equipe trabalha com as escolas de ensino especial por termos crianças com diferentes situações. Autistas podem arrancar máscara; a criança que tem deficiência visual precisa muito do contato, do pegar. Todos esses cuidados, as escolas estão tendo para que as aulas retornem com segurança.
Mesmo com escolas fechadas, o governo não parou. Todas as escolas possíveis de serem reformadas passaram por algum reparo, correto? Quantas unidades foram reformadas? Podemos afirmar que os alunos terão uma estrutura física muito melhor do que antes da pandemia?
Foi no DF o momento em que tivemos o maior número de reformas nas escolas. Temos ainda algumas escolas em que só uma reforma não resolve, tem que ser reconstrução; isso nós estamos fazendo. Foram muitas, desde reforma de banheiro, pequenos reparos, pintura, até realmente uma reconstrução significativa. Temos uma preocupação muito grande em ampliar o número de creches. Estamos licitando várias creches. Hoje a nossa demanda reprimida é de 9.006, mas temos esse cuidado exatamente porque entendemos a importância da creche para o DF. É muito necessário que os pais saiam para trabalhar deixando seus filhos nas creches, protegidos, bem-atendidos, alimentados. Essa é uma bandeira do governo Ibaneis, que é ampliar o máximo as vagas. Trabalhamos para zerar essa demanda reprimida das creches.
Foi o maior uso do Pdaf [Programa de Descentralização Administrativa e Financeira] da história?
Não só o Pdaf, porque ele realmente é um dinheiro de descentralização de recursos financeiros para as escolas, mas agradecemos aos parlamentares, porque destinaram muito dinheiro em emendas. É importante porque esses recursos chegaram, desde cobertura de quadra, ampliação de salas, melhorias nos refeitórios. Tudo isso foi feito tanto com Pdaf quanto com emendas parlamentares, e o governo Ibaneis deu muito apoio à liberação desses recursos.
Há previsão de contratar mais profissionais para atuar na educação pública?
Nós vamos zerar o banco de reserva de professores concursados. Já conversamos com o secretário de Economia, André Clemente, e deveremos chamar todos os profissionais. São mais de 300 que existem no banco. Nos próximos dias, teremos o chamamento desses profissionais.