Exemplo foi seguido!
Por Olavo Denencial
No começo da década de 70, o zelador do bloco A da SQS 206 era um homem sério, muito compenetrado no trabalho, procurando sempre onde melhorar para desempenhar suas funções. O prédio servia de moradia para senadores, deputados federais ministros. Ocasionalmente algumas dessas autoridades recorriam ao zelador para fazer serviços particulares. Um deles era pedir para ele buscar algum carro em algum lugar do Brasil.
O que muitos não sabiam, nem seus filhos, era sua habilidade com a bola de futebol. Qualidade só descoberta por acaso. Certa vez seus três filhos homens, iam jogar bola com amigos. A criança ia trocando passes até chegar no gramado, perto da garagem do prédio, onde a criançada se divertia praticando o esporte bretão. Em determinado momento um garoto não conseguiu dominar a bola. A redondinha parou justamente perto do zelador. Quando foi ouvido um grito:
-“ Seu” Araújo! Chuta a bola para a gente!
Para surpresa de todos, incluindo seus filhos, ele levantou a bola e fez 100 embaixadinhas. Nota do escritor: embaixadinha é um malabarismo feito com a bola sem tocar o pé no chão! Quando ele ia devolver a bola a surpresa, a criançada toda estava ao seu redor! Muitos tentaram e no máximo que conseguiram foram chegar ao número 15.
Com isso virou rotina. Toda vez que a garotada ia jogar, eles passavam perto do zelador para ele bater o recorde de 100 embaixadinha. E conseguiu, fez 200. Essa façanha o ele se tornou um herói para a garotada e um super-herói para os seus filhos.
Esse acontecimento foi justamente no período em que o Brasil estava disputando a Copa do Mundo no México em 1970. A seleção brasileira tinha vários craques. Dois canhotos, iguais ao “seu” Araújo eram destaques Gerson e Rivelino. Depois disso o zelador ficou conhecido como Gersonlino ou Rivagerson.
Anos mais tarde, um dos seus filhos estava passeando com as filhas no shopping onde tinha um espaço para a garotada tentar ganhar um presente numa disputa de chute a gol. Ao olhar para o lado suas filhas viram um garotinho triste. Ele não conseguia acertar o gol. Então pediram:
– Pai ajuda ele!
Imediatamente ele foi remetido ao passado e lembrou a cena do seu pai fazendo embaixadinhas. Pegou a bola e começou uma sequência de 15 gols direto. Com isso o prêmio que ganhou deu para o garotinho. O menino ficou super feliz. As netas do seu pai acompanharam essa felicidade.
Esse ano foi mais um que passei sem a presença do meu pai no seu dia. Mas Deus me abençoou com a presença das minhas filhas e esposa. Sinto sua falta do me Gersonlino ou Rivagerson, sentimento que todo filho que perdeu o pai sente.
E como escreveu o poeta: “e mais que seu filho, eu me tornei seu fã! ”