Daqui a pouco mais de um mês, o destino de Dilma Roussef na presidência da República estará nas mãos dos 513 deputados que compõem a Câmara Federal. Para que ela seja afastada do cargo e o processo avance, é necessário que dois terços (342) dos parlamentares sejam favoráveis à interrupção de seu mandato. O processo segue então para o Senado para ser votado em uma sessão presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. Nessa fase, se a maioria simples – metade mais um dos senadores – concordar com o afastamento, a presidente é destituída do cargo.
“É muito difícil sustentar o atual governo, a opinião pública não acredita nele”, diz Álvaro Martim Guedes, especialista em administração pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O apoio da população ao impeachment cresceu oito pontos desde fevereiro, segundo mostrou pesquisa Datafolha divulgada neste mês. O levantamento mostra que 68% dos eleitores são favoráveis ao afastamento da presidente. O índice de reprovação também aumentou: 69% avaliam a gestão Dilma como ruim ou péssima.
Apesar disso, existem 143 parlamentares (118 deputados e 25 senadores) contrários à destituição da presidente. Esses deputados estão filiados às siglas que constituem a base de apoio do governo, como PMDB, PCdoB e PSOL, entre outros. “São partidos que, de alguma forma, tiram algum benefício da situação. Mas, ainda assim, esse suporte não se mostra firme”, afirma Guedes. No tabuleiro político, ser favorável a um governo impopular pode implicar sérios riscos de morte na vida pública.
“Esses parlamentares precisam prestar atenção ao recado dado nas ruas. As pessoas estão decepcionadas com o mundo político e bastante irritadas. O eleitor sabe que tem condição de se vingar deixando de votar nele”, afirma o cientista político Marco Aurélio Nogueira. Para David Fleischer, cientista político da Universidade de Brasília, as consequências podem ser sentidas já nas eleições municipais deste ano. “Os aliados desses políticos que votarem contrários ao impeachment podem perder feio no próximo pleito”, diz.
Na atual conjuntura, em que milhões de brasileiros saem de casa e tomam as ruas para manifestar sua insatisfação sistematicamente, esses 143 parlamentares assumem posições de risco. “Eles estão virando as costas para a população, quem não ouve o clamor das ruas não consegue se reeleger”, diz Lúcia Hipólito, analista política. Dentro dessa onda de pressão popular, o movimento Vem Pra Rua criou o Mapa do Impeachment. Ao longo desta reportagem estão listados os 118 deputados que, no momento, são contrários ao afastamento de Dilma, de acordo com informações colhidas na página do Vem Pra Rua.
Favores: Ao centro, o líder do PMDB na Câmara contrário ao impeachment
Leonardo Picciani com o ministro da Saúde, Marcelo Castro (à dir.):
apoio ao governo federal em troca de cargos públicos
O site lista por nome todos os deputados e senadores indecisos, contrários e favoráveis ao afastamento da presidente. Divididos por região e estado, a ficha possui dados como telefone, evolução patrimonial, bens declarados e doadores de campanha. Com as informações, o eleitor pode verificar, por exemplo, que a maioria recebeu doação de empresas investigadas pela Operação Lava Jato. “É a primeira vez que se reúne em uma ferramenta o posicionamento de deputados e senadores em matérias de interesse nacional”, afirma Rogério Chequer, líder do movimento.
Vale lembrar que este Mapa do Impeachment deve mudar bastante nos próximos tempos. Na terça-feira 29, por exemplo, está prevista a reunião do diretório nacional do PMDB que decidirá se a legenda ficará ou não na base de apoio do governo. O objetivo da ala oposicionista é declarar o rompimento imediato com a gestão petista, o que faria a presidente não sobreviver ao processo de impeachment na Câmara. No momento, há 12 deputados federais do partido contrários ao afastamento de Dilma, entre eles o líder na Câmara Leonardo Picciani (PMDB-RJ).
Exemplo clássico do fisiologismo que marca a legenda, o deputado apoiou o candidato à presidência pelo PSDB Aécio Neves em 2014 e atualmente é aliado do Palácio do Planalto, desde que pode indicar dois ministros: o da Saúde, Marcelo Castro, e o da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera. Mesmo que esteja ligeiramente dividido, explica Lúcia, o PMDB é o “fiador da estabilidade do regime”. Depende praticamente da legenda a destituição do governo. A maior bancada da Câmara contra o impeachment é, obviamente, a do PT. Atuando em parceria com o Planalto, os 70 parlamentares petistas têm a difícil tarefa de arregimentar mais aliados e se fazer ouvir, em meio ao grito das ruas e aos índices de impopularidade das pesquisas.
Colaborou: Camila Brandalise