A falta de tornozeleira de monitoramento eletrônico está mantendo Adriana Ferreira de Almeida, que ficou conhecida como a “Viúva da Mega-Sena”, na cadeia desde segunda-feira (19), quando a defesa conseguiu o alvará de soltura para que ela cumpra a pena domiciliar. Foi o que confirmou à reportagem do G1 na tarde desta quarta (21) a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).
Adriana foi condenada a 20 anos de prisão em Rio Bonito (RJ) pelo homicídio triplamente qualificado do companheiro Renné Senna, em 2007, mas teve a prisão revogada na noite de segunda depois que a defesa entrou com pedido de anulação do julgamento. O pedido foi concedido pela Justiça, porém, a crise no estado atingiu o fornecedor da tornozeleira, que não recebe desde agosto.
A Seap informou ainda que “a situação está sendo comunicada à Justiça e esclareceu que para adquirir a tornozeleira o advogado do interno deve entrar em contato com a empresa Spacecom”.
A reportagem do G1 não obteve retorno do advogado de defesa de Adriana, Jackson Rodrigues, sobre a situação.
Sobre o caso
Adriana foi levada para o presídio em Bangu (RJ) no domingo (18) após o julgamento pela morte do companheiro, Renné Senna, ganhador do prêmio de R$ 52 milhões da Mega-Sena em 2007. A condenação levou em consideração que o crime teve motivo torpe (que fere a moral) e que deveria ser cumprida em “regime inicialmente fechado”.
Segundo a decisão do juiz Pedro Amorim Gotlib Pilderwasser, da 2ª Vara de Rio Bonito, a prisão de Adriana foi convertida em uso de tornozeleira eletrônica. Ela não poderá manter contato com a família da vítima e terá que comparecer mensalmente em juízo para informar suas atividades. Adriana terá que permanecer em casa no período da noite, no Condomínio Village Ipanema I, em Cachoeiras de Macacu, e nos fins de semana.
A alegação da defesa de Adriana, e que foi aceita pela Justiça, é que ela tem endereço fixo e que não oferece risco de fuga. O Ministério Público informou na manhã desta terça-feira (20) que analisa a possibilidade de recorrer da decisão do juiz Pedro Amorim Gotlib Pilderwasser, que converteu em domiciliar a prisão de Adriana Ferreira de Almeida.
Renné foi morto com quatro tiros em um bar de Rio Bonito. Os dois assassinos foram descobertos e condenados a dezoito anos de prisão. A promotoria defendeu a tese que os assassinos foram pagos por Adriana. Ela teria planejado o assassinato depois que o companheiro descobriu que ela tinha um amante e ameaçou tirá-la do testamento. O interrogatório da ex-cabeleireira durou mais de cinco horas e o julgamento durou três dias.
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Absolvida em 2011
Adriana Ferreira já tinha sido julgada em 2011 e foi absolvida, mas o Ministério Público recorreu e o Tribunal de Justiça anulou o julgamento por entender que a decisão do júri foi contrária às provas apresentadas.
O julgamento
O julgamento começou no dia 13 de dezembro, mas a batalha ficou mais acirrada na quinta (15). Pela acusação, a promotora de Justiça Priscila Xavier tentava comprovar a participação dela no assassinato do marido, Renné Senna, enquanto o advogado de defesa, Jackson Rodrigues, afirmava que o MP não apresentou provas do envolvimento dela.
No depoimento, ela disse que gostava do companheiro, mas admitiu que tinha um amante desde meses antes da morte de Renné, que ficou milionário após receber um prêmio de R$ 52 milhões na Mega-Sena. Adriana disse ainda que não sabia que estava no testamento com direito a metade de tudo que ele deixasse.
Depois de Adriana foi a vez da promotora Priscila Xavier falar pela acusação. Ela tentou desconstruir a versão de Adriana. A promotora refez a cronologia dos últimos dias que antecederam ao crime. Disse, por exemplo, que Adriana teria trocado telefonemas com Anderson Souza, que foi condenado a 18 anos pela morte de Renné. O sigilo telefônico de Adriana foi quebrado durante o processo. Segundo a acusação, Adriana teria mandado matar Renné após ficar sabendo que ele pretendia retirá-la do testamento.
No segundo dia de julgamento, um gerente de banco que administrava uma conta conjunta entre Adriana e Renné Senna disse que os dois faziam retiradas, mas Adriana era quem mais movimentava, retirando cerca de R$ 10 mil por mês. Em um determinado momento, disse o gerente, Renné decidiu cancelar a conta.
O advogado de Adriana também falou com a reportagem. Ele lembrou do primeiro julgamento em que Adriana foi absolvida e que foi cancelado após um pedido do Ministério Público.
“Ela já foi submetida a um julgamento e a sociedade de Rio Bonito a absolveu. O MP conseguiu um novo julgamento e eu pensei que traria algo significativo, mas não tem nada de novo e não convence sobre a participação da minha cliente no crime”, declarou o advogado Jackson Rodrigues.
O crime
Na manhã do dia 7 de janeiro de 2007, Renné estava em um bar sem seguranças, próximo à sua fazenda, quando dois homens encapuzados chegaram em uma moto e o carona atirou; ele morreu na hora.
As balas acertaram a nuca, a têmpora esquerda, o olho esquerdo e o queixo do milionário. A viúva Adriana foi acusada pela filha e pela irmã da vítima, Renata de Almeida e Jocimar da Rocha, de ser a mandante da execução.
Ex-lavrador, René Senna, ficou milionário em 2005, ao ganhar R$ 52 milhões no prêmio da Mega-Sena. Diabético, ele tinha perdido as duas pernas por causa de complicações da doença e morava em Rio Bonito.
Em 2006, começou a namorar a cabeleireira 25 anos mais nova que ele. Ela abandonou o emprego e foi morar com ele na fazenda avaliada em R$ 9 milhões, junto com dois filhos do primeiro casamento.
No dia do enterro, começaram as primeiras suspeitas da família do ex-lavrador contra a viúva, que tinha passado o Réveillon com um suposto amante em Arraial do Cabo, na Região dos Lagos do Rio.