Crise hídrica, por Adelmir Santana
Ate meados do ano passado, nenhum governo da história de Brasília jamais havia falado concretamente sobre uma crise hídrica atingir o Distrito Federal. Cogitar um racionamento de água em pleno período de chuvas, então, era algo praticamente impensável. Pois a realidade chegou e agora nós estamos pagando por essa falta de planejamento. Justamente por nenhum gestor ter se preocupado com o óbvio. A quantidade de água, como todos sabem, é no máximo um recurso constante, enquanto o consumo, por outro lado, só aumenta. Aliado a isso, a capital federal enfrenta alteração nos ciclos de chuvas, falhas no sistema de captação e uma ocupação desordenada do solo. O resultado não poderia ter sido diferente.
O que nos espanta não deveria ser a necessidade de fazer um racionamento, mas sim o fato de nenhum governo ter proposto isso antes. Ou nenhuma autoridade ter apresentado um plano de contingência para evitar que chegássemos a esse ponto. Justiça seja feita, durante o governo Roriz foi construída a Barragem de Corumbá IV, mas as obras para trazer água para Brasília nunca saíram do papel. Hoje, o consumo de água na capital só cresce. Os números indicam que a população do DF ganha em torno de 60 mil pessoas por ano. Em 2015, o consumo médio por habitante era de 184 litros diários, quase o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
As invasões de terras em áreas próximas às bacias que alimentam a cidade complicam ainda mais a situação. Essas construções inapropriadas diminuem a infiltração da chuva no solo. Por outro lado, muitos cidadãos desviam a água de mananciais e nascentes, de forma criminosa, para irrigar suas plantações e propriedades. É de fato, um cenário caótico. Se não houver fiscalização, não sabemos o que poderá acontecer no futuro. A situação é realmente preocupante. É preciso que os brasilienses reduzam o consumo. O governo, por sua vez, não pode somente aumentar a conta. Precisamos de medidas concretas para os próximos 100 anos, pelo menos.
Adelmir Santana
Presidente do Sistema Fecomércio-DF (Fecomércio, Sesc, Senac e Instituto Fecomércio)