Dicas para evitar focos de dengue durante o racionamento
Armazenamento inadequado de água é o principal criadouro do Aedes aegypti no Distrito Federal
A vendedora autônoma Geralda Vieira do Rosário, de 55 anos, tem o hábito de estocar água na chácara onde mora, na Vila Planalto, para compensar os dias de racionamento. “Uso todos os dias para lavar roupa e regar as plantas”, justifica.
Mesmo que o recurso seja utilizado com frequência, o armazenamento inadequado pode significar riscos à saúde: recipientes como baldes e tonéis têm sido, de acordo com a Vigilância Ambiental em Saúde, o principal criadouro no DF do Aedes aegypti, transmissor da dengue, da chikungunya e da zika.
Para evitar a proliferação do mosquito, agentes foram à casa de Geralda e recomendaram a completa vedação de alguns objetos. Entre eles, uma banheira, na qual a equipe despejou hipoclorito de sódio para impedir o desenvolvimento do inseto.
“O importante é manter o recipiente completamente vedado. É necessário fechá-lo imediatamente após o uso”, aconselha Herica Martins, chefe do Núcleo de Vigilância Ambiental Norte, da Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde.
Os locais preferidos do mosquito Aedes aegypti são de cor escura e com água parada — limpa ou não
Ela ainda indica a limpeza duas vezes por semana, esfregando as paredes com o lado áspero da bucha. Isso porque os ovos do Aedes são aderentes e duram de um ano a 450 dias em ambientes secos. Os locais preferidos do mosquito são de cor escura e com água parada — limpa ou não.
Segundo Herica, responsável pelas vistorias na Asa Norte, na Granja do Torto, no Lago Norte, no Taquari, no Varjão, em Vicente Pires e na Vila Planalto, cerca de 40% dos focos de larvas encontradas pela equipe dela neste ano foram em recipientes para armazenar água.
Chácara visitada pela reportagem tinha larvas de mosquito em fossa
Na visita guiada a chácaras da Vila Planalto, na semana passada, não foram encontrados rastros do mosquito nos recipientes.
Em uma das residências, porém, havia dezenas de larvas e pupas em uma fossa, fechada parcialmente com uma garrafa pet. Os servidores da Vigilância Ambiental deram ao caseiro uma tela de poliéster, que ele usou para fechar a fossa.
“Não é um recipiente de água para o racionamento, mas a dica é a mesma: mantenha a estrutura completamente vedada”, observa Everaldo Resende, supervisor de campo do Núcleo de Vigilância Ambiental, presente na coleta.
Caixa d’água é o único armazenamento recomendado pela Caesb
Todas as orientações dadas pela Vigilância Ambiental em Saúde são pontuais, em cima do que as pessoas têm feito no racionamento. A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) recomenda, no entanto, o estoque apenas em caixa d’água.
“É preciso parar de encarar a água como um recurso abundante. Ou aprendemos a viver com uma quantidade limitada, ou teremos de buscar água cada vez mais longe”Karina Bassan, analista em sistemas de saneamento da Caesb
“O armazenamento em latas e baldes é muito precário. Muitas vezes, ficam a semana inteira com água, um ciclo de desenvolvimento completo do Aedes aegypti”, observa Karina Bassan, analista em sistemas de saneamento da Caesb. Segundo a engenheira química, o ideal é uma caixa d’água completamente vedada e limpa a cada seis meses.
As normas seguidas pela Caesb incluem os artigos 78 e 135 do Código de Edificações do DF — que em breve será substituído pelo projeto em trâmite na Câmara Legislativa —, o artigo 37 do decreto que regulamenta instalações prediais de água fria, a NBR 5626 da Associação Brasileira de Normas Técnicas e a Resolução nº 14 de 2011 da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa).
Desde antes do rodízio no fornecimento, a Caesb alerta as pessoas para o uso racional da água. Entre as dicas estão banhos de até cinco minutos; torneiras fechadas sem gotejar; e troca da mangueira por balde na lavagem de carro, por vassoura na limpeza de áreas externas e por regadores nas plantas.
Para Karina, o importante é mudar a cultura. “Sabemos como fazer, mas não incorporamos ao dia a dia. É preciso parar de encarar a água como um recurso abundante. Ou aprendemos a viver com uma quantidade limitada, ou teremos de buscar água cada vez mais longe”, afirma.
EDIÇÃO: MARINA MERCANTE
Com informações da Agência Brasília