O Brasil tem um novo ídolo esportivo: o surfista Gabriel Medina, que conquistou nesta sexta-feira o título mundial em Pipeline, no Havaí, diante de adversários experientes e campeões como o norte-americano Kelly Slater e o australiano Mick Fanning. É a primeira vez na história que o País garante um troféu na elite deste esporte. Outros brasileiros já brilharam na modalidade, mas nunca haviam chegado tão longe quanto o garoto de Maresias (praia de São Sebastião, em São Paulo), que nesta segunda faz 21 anos.
A façanha ocorreu no Pipe Masters, a última etapa da temporada, disputada no Havaí. Ele já liderava o ranking mundial com uma boa vantagem sobre seus concorrentes antes do início da disputa em Pipeline e durante a competição mostrou talento para garantir o título mundial ao vencer suas baterias e contar com o tropeço de Mick Fanning na quinta fase da competição – o brasileiro Alejo Muniz eliminou o australiano. “Significa muito para mim poder ser o primeiro brasileiro campeão mundial de surfe”, disse Gabriel Medina.
Este é o quarto ano dele no Circuito Mundial de Surfe – em 2011, quando estreou, disputou apenas quatro etapas, ganhando duas e chamando a atenção para o seu talento precoce. Logo em sua primeira etapa na elite, em Hossegor, na França, ele venceu com um show de aéreos e mostrou que daria muito trabalho para as feras. Naquele mesmo ano, ainda faturou o Rip Curl Pro Search, em São Francisco. Terminou a temporada na 12.ª posição, mesmo não tendo participado de nem metade das etapas.
No ano seguinte provou que aqueles que apostavam nele estavam certos e terminou na sétima posição, ficando em segundo lugar em duas etapas e mostrando uma consistência. Em 2013, prejudicado por lesões, ficou em 14.º lugar, com apenas dois bons resultados – um segundo lugar e um terceiro. Mas ver de perto o título do amigo e conselheiro Mick Fanning deu um grande estímulo para que ele pudesse brilhar na temporada seguinte.
Só que ainda no Havaí, no final de 2013, o brasileiro se machucou em um treino livre depois do Pipe Masters. “Quebrei a perna dias depois do campeonato, em um aéreo bobo. Também não tinha dormido direito na noite anterior, estava me sentindo meio cansado, e já era meio estresse de competição. Rompi três ligamentos e minhas férias foram com gesso”, relembrou.
AMADURECIMENTO – A partir daí, iniciou a sua recuperação e reforçou os treinamentos funcionais com o preparador Allan Menache. Na primeira etapa do ano, em Gold Coast, na Austrália, venceu e chamou a atenção por ser o primeiro “goofy” (que surfa com o pé direito na frente) após dez anos a ganhar lá. Depois venceu em Fiji e no Taiti, nos temidos tubos de Teahupoo, diante do maior especialista naquele tipo de onda: Kelly Slater.
“As etapas que eu ganhei este ano mostram meu amadurecimento. Eram ondas com tamanho grande. Em Snapper Rocks (Austrália) estava competindo com os melhores regulares, aqueles que surfam para a direita. Depois fui para Fiji, consegui ganhar a etapa que o Kelly dominava, foi muito legal porque era um local em que sempre quis vencer. Depois teve Teahupoo, e todos achavam que o vencedor seria o Kelly ou o John John, mas acabei ficando calmo e obtive a vitória. Essas três conquistas foram especiais e vou lembrar para sempre”, disse Gabriel Medina.
Os importantes resultados e o título mundial colocam agora o brasileiro no foco para 2015. Sua popularidade cresce em proporções gigantescas, ele acumula patrocínios (já tem 11) e é cada vez mais um ídolo para os brasileiros. Apesar da fama, garante que não vai mudar. “Apesar dos bons resultados que venho tendo eu nunca mudei, sou o Gabriel de sempre, com os mesmos amigos de quando era pequeno. Trato bem meus pais e irmãos, nada mudou. Minha mãe e meu pai continuam me botando no lugar em casa e sempre fui pés no chão”.