Um Feliz Tempo Novo: Concepções do Tempo e (Re)Interpretação do Mundo

 

 

Todos os anos, o calendário recorta o tempo em 12 meses, 52 semanas, e 365 dias, dando-nos a ilusão de que o tempo é fixo, uma realidade concreta e tangível. Dessa ilusão, porém, dependemos todos nós, para a administração de nossas vidas e de tudo o que a ela diz respeito, na vida em sociedade. Mas o que é o tempo? E como ele nos afeta? Qual sua função e significado? Perguntas dificílimas de serem respondidas. Muitos pensadores já tentaram, desde filósofos, passando por historiadores, até físicos. Não obstante, uma resposta definitiva e inconteste sobre o abstrato tempo ainda não está à disposição daqueles que dele fazem uso inevitável. Nas proximidades do fechar de um novo ciclo temporal, objetivado por nosso Calendário, nos sentimos todos nós como se estivéssemos prestes a romper com uma etapa passada e a adentrar-nos em uma nova fase, um novo (e mais avançado?) tempo. As expectativas da mágica “virada-de-ano” têm como prelúdio as comemorações e festividades ditas natalinas – tradição religiosa de base essencialmente e fundamentalmente cristã, porém já densamente reinterpretada e configurada pelas exigências e demandas de uma era Capitalista, Capitalizadora e, assim, conseqüentemente, também consumista. Afinal, um dos símbolos mais eloqüentes do Natal (quiçá o mais eloqüente) não é o do Cristo, o menino-deus recém nascido em Belém, mas sim o do “Bom Velhinho”, o Papai Noel (ou da Coca-Cola?). O fato é que tanto o Calendário natalino, quanto as expectativas e ritos do Réveillon, servem-nos como recursos simbólicos culturais interpretativos quanto ao tempo que finda e se inicia, que diante de nós se descortina, se desenrola, todos os anos, ao final de cada ciclo do calendário anual, propiciando-nos a esperança, a fé (religiosa e não institucionalmente religiosa), bem como a expectativa de que, finalmente, penetraremos numa nova dimensão temporal e existencial, dentro da qual seremos novas pessoas (mais felizes), superaremos nossas mais profundas dificuldades e viveremos uma nova vida, marcada por um novo ano, ou melhor um ano novo, um tempo novo. E os presságios de um novo e melhor ano não podem prescindir dos votos de felicidade (“feliz ano novo!”) e crescimento econômico (“prospero ano novo!”). O ano novo, ou o novo ano, a nova dimensão temporal esperada e tão almejada, essa transição e início de um novo ciclo de tempo, precisa se caracterizar, dentre outras grandes necessidades e anseios de nosso atual universo de sentidos, por auto-satisfação e poder material – duas ambições crucialmente significativas do homem pós-moderno, dentre outras. Recortar e classificar o tempo nos habilita a melhor (re)agir e viver no espaço e, também assim, reinterpretar a nossa própria vida  e seus constantes desafios, sempre em busca de superar os problemas e a nós mesmos, construindo desse modo um novo tempo, uma nova etapa, uma nova fase, um Novo Ano, uma nova vida. Por isso, também eu, homem entre os homens, também animal social como os demais homens, faço coro com tal esperança objetivada pelo calendário, e pelo imaginário popular, pela categorização do tempo, e desejo a todos os leitores um Feliz Ano Novo.

 

D.F.Izidro

Mestrando em Ciências da Religião (PUC-GO)

Pós-graduando em Sociologia (Estácio-DF)

 

  • Para uma interessante discussão antropológico-filosófica sobre o Tempo:

GELL,Alfred.A antropologia do tempo:construções culturais de mapas e imagens temporais.Tradução de Vera Joscelyne.Petrópolis:Vozes,2014.327 p.

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