Nelson Gonçalves escolheu Sobradinho pra viver

Na passagem dos 60 anos de aniversário de Sobradinho, no dia 13 de maio próximo, sempre bom lembrar de personalidades ligadas à história da cidade.

Leiam esse artigo da jornalista Tânia Fusco, publicado há quase 30 anos.

“O cantor cansou da violência. Quer tranquilidade, serenatas madrugada adentro, uma cachacinha. Escolheu Sobradinho no Distrito Federal” .

De fato ele escolheu a cidade para morar, comprando uma casa na Quadra Central, na rua da 13 DP.

Por Tânia Fusco

BRASÍLIA- Foi amor à primeira vista. Dia cinco o cantor Nelson Gonçalves fez um show no colégio La Salle, de Sobradinho, bucólica cidade satélite da Capital Federal, reduto de seresteiros. Encantou-se e voltou 10 dias depois. Repetiu a seresta, caiu na noite e decidiu viver em Sobradinho “para fazer serenata em janela de mulher bonita e varar madrugada cantando e bebendo na rua”. A boêmia muda de endereço: vem para o Planalto Central, na cidade que, plagiando a música, Nelson define como “divina e graciosa”.

“Chega de neurose e medo. Eu quero paz de criança dormindo”, diz, com a licença de Dolores Duran, para explicar o que motiva a mudança. “Quero esquina, cadeira na calçada, amizade dos vizinhos, respeito humano, carinho, muito amor e alguma cachaça”, insiste Nelson que vive no Rio desde 1940. “O Rio era outro. Havia troca, entrega, paixão, sinceridade. Não gosto de viver isolado, com medo. O povo de Sobradinho – a melhor gente que encontrei nos últimos tempos – será meu parceiro e guardião”.

E “a mulher que floriu seu caminho” – Maria Luiza, com quem tem um casamento de 25 anos – compreendeu e vem junto. Nelson, que procura casa para comprar, espera passar o réveillon já instalado em Sobradinho. “Olha, não estou mudando para Brasília, não. Vou é em Sobradinho. Brasília é fria, impessoal, não tem gente na rua, não tem esquina. E tem assalto e muito poder. Disso eu quero distância”.

“Cansei dos meus erros, pecados e vícios”, diz a letra de um dos seus sucessos, Boneca de Trapo. Nelson, quase 50 anos de vida artística, 60 milhões de discos vendidos, 310 compactos, 115 LPs e 172 discos de rpm gravados, cansou da cidade grande. “Chega de sufoco”, proclama e revela: “Tenho 69 anos muito bem vividos. Cabeça de 20 e poucos. Coração de adolescente. Vou levar para Sobradinho o melhor Nelson Gonçalves. Um homem que tem confiança no que é, no que pode, no que quer. Quero é muito amor, muita paz, alegria de viver”.

Nelson é gaúcho de Livramento. Mas não tem saudade da terra natal. “Essa mudança não é inspirada em saudosismo. É redescoberta mesmo. Ai eu vou ficar tranquilo, no coração do Brasil, perto de tudo. Longe o suficiente do poder e da neurose. Vou fazer um disco dedicado ao amor, ao renascimento dessa mania gostosa de amar. Não é bom demais”.

Nelson deixa a casa em Itaipu, em Niterói, onde vive e o apartamento da Barra da Tijuca, onde “passeia de vez em quando”. Traz a mulher, a filha caçula, de 16 anos, o violão e “pequenas paixões” para recomeçar a vida em Sobradinho, que prepara um superbaile da saudade para recebe-lo. “Aqui ele será nosso rei, amigo precioso, vizinho mais ilustre”, garante Robson Salazar, diretor social da Sociedade Desportiva Sobradinho (Sodeso), maior clube da cidade, que toda sexta-feira faz serestas de varar madrugada.

“A Petrópolis do DF”, assim é chamada pelos moradores

Com pouco menos de 50 milhões de cruzados Nelson Gonçalves poderá comprar “casa grande com jardim e piscina” que procura em Sobradinho, a cidade-satélite de 90 mil habitantes, muitas casas e poucos prédios. Vai encontrar tranquilidade.

No ano passado, a única delegacia de polícia da cidade – o 13 DP – registrou 2.495 ocorrências policiais, incluindo 1.436 acidentes de trânsito, a maioria de pequenas proporções. No Distrito Federal inteiro – plano-piloto e oito cidades-satélites – foram registradas 45.913 ocorrências policiais.

Sobradinho, que tem esse nome por conta do riacho que banha a cidade – o rio Sobradinho – nasceu em 13 de maio de 1960. Fica a 22 km do plano-piloto, na área mais alta do Planalto Central e, por isso mesmo, é chamada por moradores apaixonados de “Petrópolis do DF”. Não tem vida própria. É uma cidade dormitório com área de 12 quilômetros quadrados. Suas áreas mais nobres são as quadras oito e seis, onde Nelson procura uma casa. Ali terá como vizinho o principal ponto de encontro dos seresteiros locais – o bar Coisas do Norte.

A cidade tem dois clubes. Mas um deles, com 4.500 sócios, é o preferido. A Sociedade Desportiva Sobradinhense. Lá, em janeiro, será realizada a festa-seresta-recepção para Nelson Gonçalves. “Vamos juntar todos os apaixonados e seresteiros desse Planalto Central”, promete Róbson Salazar, diretor social do Clube, que já corre lista para a festa do boêmio.

Publicado em O Estado de São Paulo em 1 de dezembro de 1988
Foto: Reprodução Discoteca Pública

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