Histórias de amor e superação marcam o trabalho do projeto Humanizar

Atendentes relatam experiências do cotidiano nas unidades do Iges-DF e mostram que carinho e atenção também salvam vidas

Brasília/DF. 12/01/2020. Colaboradores participam do I Circuito de Oficinas do Projeto Humanizar, no Hospital de Base – HB do Distrito Federal. Foto: Davidyson Damasceno/Ascom IGESDF.


Entrar em um hospital é algo que traz um amontoado de sentimentos. Seja como paciente, seja como acompanhante, lidar com enfermidades requer apoio e empatia das pessoas. Pensando nisso, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) disponibiliza, nas recepções dos Hospitais de Base e de Santa Maria e das unidades de pronto atendimento (UPAs), profissionais do projeto Humanizar. Eles são capacitados para acolher e orientar todos os recém-chegados em busca de atendimento.


Na prática, esses colaboradores prestam muito mais que apoio. Eles tornam o ambiente hospitalar leve e receptivo. E presenciam histórias alheias, que também marcam suas trajetórias. Estar de prontidão nas portas das unidades, ajudar na comunicação de familiares com internados e escutar um paciente angustiado e com dor. Essas são algumas das funções dos auxiliares desde 19 de novembro de 2019, quando o projeto Humanizar foi implementado no Iges-DF.
Conheça o trabalho de alguns dos profissionais do Humanizar.


“Humanizar é ser alguém que se importe com a dor do outro”Edízia Maria Santos – Hospital de Base


Foi no início da pandemia, no ano passado, que Edízia Maria Santos, 38 anos, começou a transformar em realidade o sonho de fazer parte da equipe do Humanizar. Ela foi admitida no Hospital de Base (HB) como auxiliar de atendimento. Fluente em Libras, Edízia tem a missão de trabalhar para a inclusão de pacientes.


“Eu sei como é o preconceito e a falta de assistência para as pessoas com deficiência auditiva. É algo que só quem está ali sente”, afirma Edizia, mãe de um menino surdo. “Por isso, tenho muito orgulho de trabalhar em uma rede que oferece apoio a esse público.”


Para Edízia, atendimento humanizado significa se colocar no lugar do outro, entendendo suas dores físicas e psicológicas. Com essa certeza, a auxiliar carrega na memória a história de quando conseguiu entender a dor de um homem em situação de rua, que chegou desnorteado e aborrecido à portaria do HB. “No início, o paciente foi muito rude, mas, à medida que eu o acalmava, ele ia me revelando sua história”, relembra.


O paciente havia sido picado por uma cobra e estava com a bolsa de colostomia (que coleta excrementos) rasgada. No Pronto-Socorro, quando a enfermeira pediu para que o homem aguardasse, ele achou que não seria atendido. “Foi apenas uma confusão, mas a pessoa com dor está tão desesperada que não consegue entender direito”, explica Edízia.


Os dois retornaram ao Pronto-Socorro. O paciente, então, compreendeu que já seria chamado. “Levá-lo de volta para lá e ter a confiança dele significou muito para mim”, conta a auxiliar de atendimento. Para Edizia, a missão de ter paciência para escutar e entender o outro foi cumprida. “Isso é o Humanizar, é ser apoio onde aquela pessoa está. É alguém que se importe com a dor do outro.”


“A gratidão das pessoas e o trabalho que fazemos são nossos presentes”
Arthur Ferreira Assunção – Hospital de Santa Maria


Arthur Ferreira Assunção, 30 anos, atua no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) há um ano e três meses, quando começou o projeto Humanizar nas unidades do Iges-DF. Ao longo desse tempo, ele se deparou com histórias emocionantes, como a de um trabalhador que precisava fazer uma cirurgia urgente no joelho.


“Lembro-me dele bastante angustiado, sentindo muita dor e com medo de demorar para voltar a trabalhar, pois era arrimo de família”, conta Arthur, que procurou ouvir o paciente com atenção para entender o caso. “Dei todas as orientações para que ele conseguisse o atendimento na ortopedia e fosse internado no mesmo dia”, relata.

Depois que o homem foi operado, Arthur acompanhou pessoalmente a esposa do paciente para que lhe fizesse uma visita. “Ela ficou extremamente grata. Queria me dar presentes, mas eu não aceitei”, lembra. “A gratidão das pessoas e o próprio trabalho que fazemos são nossos principais presentes.”


Antes de entrar para o Humanizar, Arthur sempre atuou em áreas administrativas de hospitais. Ao trocar de posto, a vida dele também mudou. “Eu nunca tinha estado em uma função em que eu pudesse agir diretamente para melhorar a vida das pessoas”, conta, sem disfarçar o orgulho de participar do projeto.

“O objetivo é sempre melhorar o dia da pessoa”Hismaley Victor de Silva – UPA de Ceilândia


Abrandar sentimentos com um simples gesto de solidariedade foi o que Hismaley Victor de Silva, 28 anos, aprendeu já no primeiro dia de trabalho na UPA de Ceilândia, onde entrou há um ano na equipe do Humanizar.

“Eu vi uma senhora esperando e fui até ela saber se poderia ajudar”, relata. “A paciente contou que aguardava havia mais de duas horas. Quando fui checar a posição dela na fila de espera, percebi que o seu nome não estava registrado. Comentei do erro com o médico, e ele a chamou logo em seguida.”


Ao fim da consulta, a gratidão estampada nos olhos da paciente foi a prova de que Hismaley fez a diferença. “Ela agradeceu e me disse para continuar fazendo esse lindo trabalho”, recorda-se. “Desde então, o auxiliar atende prontamente qualquer pessoa que precise de ajuda. O objetivo é sempre melhorar o dia da pessoa.”


“Enfrentamos um momento de muitas perdas e desespero”Walis Lopes – UPA do Núcleo Bandeirante


Aos 22 anos de idade, Walis Lopes atuava havia poucas semanas na UPA do Núcleo Bandeirante quando começou a atender os primeiros pacientes contaminados com covid-19 no Distrito Federal, em março do ano passado. A missão dele e de outros integrantes do Humanizar era tranquilizar e orientar pacientes e acompanhantes assustados com a pandemia. “A nossa demanda cresceu”, relata. “Enfrentamos um momento de muitas perdas e desespero. Foi difícil.”

O distanciamento social, exigido pela crise sanitária, fez Walis perceber a importância do trabalho dele. “Pude ajudar uma senhora a se comunicar com o marido, internado por covid-19. Ela me pediu para escrever uma carta para enviar ao companheiro.”


Na declaração, a senhora dizia que ela e as filhas estavam com saudades e que não viam a hora de ele voltar para casa. “Fui escrevendo, já emocionado. Depois, eu encaminhei ao médico do setor. Foi uma troca de carinho e respeito pela história deles”, define Walis.


“O reconhecimento ao nosso trabalho faz tudo valer a pena”
Elaine Araújo – UPA do Recanto das Emas


A qualidade do atendimento em hospitais públicos deve ser igual – ou até melhor – do que o das unidades da rede privada. É esta convicção que motiva o trabalho de Elaine Araújo, 26 anos. Depois de trabalhar em hospitais particulares, há um ano ela é auxiliar de atendimento do projeto Humanizar na UPA do Recanto das Emas. Sua luta diária é para que todos os que buscam a unidade sejam bem atendidos.


Das muitas experiências vividas na UPA, uma não sai de sua memória. “Lembro-me de um paciente que chegou sentindo uma dor muito forte”, relata. “Era notório que ele estava sofrendo demais. Eu consegui que ele fosse priorizado no atendimento e internado logo. Passaram-se dois dias. Eu já não me lembrava mais dele, mas ele se lembrava de mim.” Ao receber alta, o paciente agradeceu. Segundo Elaine, ele disse, emocionado: “Moça, muito obrigado pelo seu atendimento. Você salvou a minha vida!”


Para ela, o reconhecimento dos pacientes ao atendimento prestado é o melhor atestado à qualidade dos serviços prestados em unidades da rede pública. “O reconhecimento ao nosso trabalho faz tudo valer a pena”, orgulha-se Elaine.


“Os filhos do paciente vieram à UPA para me agradecer pela ajuda”Adriana da Mota Borges – UPA de Samambaia


Em novembro de 2019, o projeto Humanizar foi implementado na UPA de Samambaia. Adriana da Mota Borges, 31 anos, faz parte da equipe pioneira. Seu trabalho é ajudar no atendimento aos pacientes. Dos casos mais simples aos mais complexos, Adriana não poupa energia para resolvê-los. E assim vai acumulando experiência e histórias de superação.
Um caso memorável para ela foi o de um senhor de 78 anos que descobriu estar infectado com a covid-19. “Os familiares estavam muito aflitos. Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance para ajudá-los”, lembra.


Para minimizar a aflição do idoso e dos parentes dele, Adriana tomou a iniciativa de criar uma forma de interação entre todos. Periodicamente, ela procurava pessoalmente o médico do paciente para saber sobre o estado de saúde do idoso. Assim que recebia o relato do médico, ela solicitava à assistente social da unidade para que o paciente conversasse com os filhos por meio de videochamada. Assim foi feito até o idoso se curar.


“Eu já estava feliz por saber que aquele idoso conseguiu vencer a covid-19 e voltar para casa”, relata. “Fiquei mais orgulhosa ainda quando os filhos dele vieram até a UPA para me agradecer pela ajuda. Fiquei muito impactada.”

A auxiliar de atendimento acredita que se tornou uma pessoa melhor depois que ingressou no projeto Humanizar. “Hoje, eu me sinto mais humana. Sou outra pessoa dentro e fora do meu local de trabalho.”


“Nosso objetivo é amenizar, ao máximo, a dor do outro”Fabyo Bezerra – UPA de São Sebastião

Rotina puxada e correria. É assim que o auxiliar de atendimento Fabyo Bezerra, 32 anos, define o dia a dia na UPA de São Sebastião. A chegada ao projeto Humanizar em abril do ano passado trouxe a ele uma nova realidade. “Já tinha trabalhado na área de atendimento, mas a vivência na saúde é completamente diferente. Como em São Sebastião não tem hospital, todos os tipos de fatalidades chegam à UPA”, explica.


O compromisso de Fabyo é prestar atendimento de qualidade a todos os pacientes, independentemente da gravidade do caso. “Eu vejo como posso ajudar qualquer pessoa que entra na unidade”, conta. Foi assim que o auxiliar agiu quando viu chegar um rapaz que havia caído de um telhado.


“Ele estava dentro do carro, e eu corri para socorrê-lo. Quando me aproximei, vi que estava jorrando muito sangue. Foi uma cena difícil”, conta Fabyo. “Mesmo assim, tive forças para levá-lo direto à sala vermelha (para casos mais graves). De lá, o encaminharam de ambulância para um hospital da rede”, completa.

Apesar de desconhecer o desfecho da história do paciente, o auxiliar garante que a prontidão no atendimento fez a diferença. “A gente cria vínculo e amor ao próximo sem nem conhecer a história das pessoas”, afirma. “Nosso objetivo é amenizar, ao máximo, a dor do outro.”


“Ajudar outras pessoas faz parte dos valores que carrego”Francijane Almeida – UPA de Sobradinho


Formada em biologia e estudante de enfermagem, Francijane Almeida, 33 anos, identificou-se com o Humanizar desde o início do projeto na UPA de Sobradinho, no fim de 2019. De lá pra cá, ela vestiu a camisa da iniciativa — literal e simbolicamente. “Ajudar outras pessoas, principalmente pacientes tão fragilizados, faz parte dos valores que carrego”, diz.
Recentemente, Francijane viveu uma experiência marcante na UPA. “O neto de um paciente veio me pedir para que o avô dele fizesse com urgência o exame da covid-19, já que a saúde dele estava piorando a cada dia”, conta.


Segundo a atendente, o rapaz temia que o avô partisse sem ter velório e enterro dignos, com direito a reunir a família, já que, por questões de segurança, pacientes que morrem por complicações do coronavírus têm restrições no momento da despedida. “Não medi esforços para agilizar os trâmites do exame, que deu negativo. Mas, infelizmente, o idoso veio a falecer no dia seguinte”, relata Francijane.

Como consolo, a família pôde enterrar o idoso da forma tradicional, com os parentes dando o último adeus. “Vou guardar isso na minha memória para sempre”, afirma Francijane.


Texto: Thaís Umbelino e Thays RosárioFotos: https://www.flickr.com/photos/institutohospitaldebase/albums/72157718163466878 
Em anexo: Davidyson Damasceno/Ascom IGESDF.

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