‘Turismo interno é principal motivo de retomada do setor’

Secretária de Turismo, Vanessa Mendonça, fala sobre os desafios para tornar Brasília cada vez mais um polo de visitas

Como fazeturismo quando o mundo pede isolamento e distanciamento social? No Distrito Federal, a resposta envolve inovação, planejamento, consolidação e reconhecimento da própria população. O investimento e a estruturação da área ao longo de 2019 contribuíram para que fosse possível atravessar o ano de 2020 com conquistas, novidades, soluções e planos para o futuro. É o que conta Vanessa Mendonça, titular da Secretaria de Turismo (Setur), em entrevista à Agência Brasília. Em ritmo de retomada, a pasta dá as mãos para o setor e, dentro do plano de tornar a capital um polo cada vez mais consolidado, conquista o próprio brasiliense que passa a conhecer mais a cidade onde vive.

Confira, abaixo,  os principais trechos da entrevista. 

Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Enfrentamos um cenário de pandemia que faz com que a rotina se altere e os planos mudem. Faz parte disso a restrição às viagens, que acabam impactando o turismo. De modo geral, como a senhora avalia o desempenho do turismo no DF no último ano?

O último ano foi extremamente desafiador, mas viemos de um 2019 que conseguimos restaurar e implementar ações estruturantes no setor. Fizemos uma segmentação muito clara que nos permitiu trabalhar com a iniciativa privada, as entidades, o Ministério do Turismo e Embratur. Dividimos os 52 setores (gastronomia, hotelaria, transporte, etc.) em eixos: turismo cívico, náutico, arquitetônico, cultural, ecoturismo, rural, etc. Mesmo com a pandemia, intensificamos a atuação. O índice de atividades turísticas no DF apontou aquecimento do setor de 25,6% em agosto de 2020 – um resultado acima da média nacional, que foi de 19,3%. Isso representa a concretização de um trabalho consistente. A cidade é a mesma, o que mudou foi a forma de olhar e cuidar dela.

“O índice de atividades turísticas no DF apontou aquecimento do setor de 25,6% em agosto de 2020 – um resultado acima da média nacional, que foi de 19,3%”

Essa estruturação influenciou na implementação de novos projetos?

Logo quando passamos a viver a pandemia, lançamos o movimento Juntos por Brasília e Juntos pelo Turismo, que teve engajamento imediato das entidades que compõem o nosso trade. Abrimos grupos de trabalho por segmento com objetivo de passar a imagem de Brasília como destino seguro quando o setor retomasse. Houve um trabalho de pegar na mão do setor e falar: nós estamos aqui, caminharemos juntos e vamos encontrar a solução para superar esse momento.

Como fazer turismo sem poder viajar?

Com inovação. E as plataformas digitais foram e são essenciais. Implementamos o projeto Tour Virtual, com experiência de visitar rotas temáticas com os atrativos da cidade. Pelo Google Earth é possível encontrar guias de sete eixos diferentes: Rota Cívica, Cultural, Arquitetônica, Náutica, Rota do Cerrado, Rota da Paz (com turismo religioso) e Fora dos Eixos. De abril do ano passado para cá, tivemos 64 mil visualizações. Também tivemos o Live Tour, com visitas guiadas transmitidas ao vivo pelas redes sociais, trabalhando um tema por mês. Tivemos uma audiência muito boa de brasilienses, pessoas de outros estados e de outros países.

Essas iniciativas durante a pandemia permitiram que o brasiliense conhecesse mais a própria cidade?

Com certeza! Mais do que nunca, o turismo interno é o principal motivo do setor ter começado essa retomada gradual. É o despertar de um olhar da nossa população para a nossa cidade. Ressalto ainda a atuação do turismo rural que se desenvolveu e destacou nesse período, com com circuitos de pousadas, ocupação acima da média e faturamento de R$ 80 milhões. Isso porque o brasiliense buscou refúgio na área rural. Além disso, temos o privilégio de poder visitar pontos turísticos extremamente importantes e ao ar livre, com segurança, como o maior lago artificial urbano do mundo, o Paranoá, ou um dos maiores parques da América Latina, o Parque da Cidade. Tem também a Ermida Dom Bosco, que o GDF conseguiu reformar inteira, que engloba turismo de aventura, náutico, religioso, de contemplação e ecoturismo. A visita ao Panteão da Pátria pode entrar nas indicações, e poucos conhecem… além, claro, do que há nas RAs.

“O brasiliense buscou refúgio na área rural”

A iniciativa do Brasília Iluminada, além de deixar a cidade como nunca antes se viu, fez com que milhares de brasilienses e turistas se deslocassem ao centro da capital. Qual foi o objetivo de fazer esse investimento em um ano complicado e atípico?

Queremos mostrar essa potência de Brasília como uma cidade capaz de oferecer a sua população e visitantes uma experiência única. Foram 30 dias de interação com as tradicionais luzes de ano novo, e seis mil empregos gerados. Poder transformar todo esse encanto em oportunidades para milhares de trabalhadores tem um significado ainda mais forte.

Na gestão, o turismo cívico ganhou protagonismo. Antes da pandemia, a experiência na Praça dos Três Poderes virou um evento para toda a família. Qual é a preocupação da Setur em relação a essa característica da cidade?

Tenho convicção que nenhuma outra capital tem tanta condição de fazer esse tipo de turismo com a propriedade que nós temos. A cerimônia de troca da bandeira ocorre no primeiro domingo de cada vez e ressignificá-la dá oportunidade de mostrar às novas gerações a história da capital e do país. Fui a cada órgão – Ministério da Defesa, Marinha, Exército, Aeronáutica – e fiz o convite para, juntos, transformar a cerimônia em uma manhã de espetáculo para a população. Criamos o programa Manhã cívica – Brasília: o Brasil começa aqui, com artesãos, Fecomércio, Sesc, atrações e entretenimento. A pandemia interrompeu depois que chegamos a sete mil presentes, mas desejamos retornar no momento certo com todas as medidas de segurança necessárias.

Falando nesses artesãos chamados para a Manhã Cívica, a Setur tem investido no reconhecimento desses profissionais, com cadastramento e emissão de Carteiras Nacionais do Artesão. Qual é o panorama atual no DF e por que essa formalização é importante para o turismo?

O artesanato faz parte da cadeia produtiva do setor do turismo. Hoje temos cadastrados 10.801 artesãos, com carteiras emitidas – e continuamos entregando na pandemia. O artesanato tem coordenação técnica no órgão, com gestão de dois mestres artesãos para trabalhar de forma estruturada, promovendo a qualificação e promoção em todas as regiões administrativas, articulando espaços para venda dos produtos. Os artesãos são selecionados por meio de edital e comissão para serem comercializados em todos os eventos apoiados pela Setur e em espaços cedidos em shoppings.

A senhora falou sobre o turismo nas regiões administrativas. Existe a previsão de levar CATs para as cidades?

Existe! Atualmente são seis CATs: Setor Hoteleiro Norte, Setor Hoteleiro Sul, na Rodoviária Interestadual, na Torre Digital, na Casa de Chá e o recém inaugurado no aeroporto. Estamos com outros sendo montados em seis cidades, em parceria com os administradores regionais: Ceilândia, na Casa do Cantador, no Gama, em Sobradinho, no Guará, no Lago Sul e no Riacho Fundo II. Tivemos duas rodadas de capacitação para que a gente faça conexão do turista que chegar a Brasília com as regiões administrativas, fazendo com que ele saia da tradicional rota cívico-arquitetônica e tenha outras experiências.

Antes da pandemia, o GDF reduziu a alíquota do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o querosene de aviação e garantiu novas rotas de voos para países da América Latina. Qual a importância desse marco? Apesar da pandemia, há tratativas ou estudos para abrir novas rotas?

Nós conquistamos quatro voos internacionais, para Cancún, Lima, Santiago e Assunção, o que é de extrema importância pela interlocução entre Brasília e a capital de cada um dos países da América Latina. Qualquer voo direto faz com que Brasília fique mais acessível a todo mundo porque diminui as distâncias. Como resultado, tivemos o acréscimo de 41% de turistas estrangeiros.

Pela primeira vez, o GDF conquistou credenciamento de Brasília no Fundo Geral de Turismo (Fungetur), que dá acesso a uma linha de crédito de R$ 521 milhões para investir em empreendimentos do setor. Na prática, o que isso representa para a área turística da capital?

É uma conquista histórica. Brasília nunca tinha conseguido se qualificar, então representa a condição do setor em poder retomar as atividades com condição especial para obter crédito nesse momento tão difícil. Estamos junto ao BRB fazendo a interlocução com toda a cadeia produtiva para que não haja dificuldade. Do pequeno ao grande, todos têm a condição de obter o crédito. Isso tudo reflete no setor de maneira positiva, fazendo com que o trade ofereça serviços cada vez melhores.

No último ano, apesar de todos os desafios, tivemos Rally dos Sertões, Capital Moto Week, eventos que chegaram e continuaram. O que podemos esperar para esse 2021?

Fomos selecionados pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Social] e cumprimos a meta de engajamento popular para implementar o Brasília Realidade Virtual. O acordo era que a cada um real doado por algum brasilense, o BNDES aportava R$ 2. Em pouco tempo, a meta de R$ 287,5 mil foi alcançada. Vamos fazer uma experiência imersiva como a gente nunca viu, já é a primeira novidade do ano. Vamos lançar mais três rotas: a Turismo Arquitetônico Acessível, a das Rota Duas Rodas em parceria com o Brasília Moto Week, e a da Diversão. Também vamos distribuir a coleção dos miniguias de turismo segmentados a partir dos roteiros digitais.

E qual vai ser o maior desafio?

Assegurar à iniciativa privada a capacidade de desenvolver as suas atividades de forma segura, com o apoio para a estruturação e a promoção da nossa cidade. Estamos aqui para servir, atender indistintamente todos os setores, trabalhando pela estruturação qualificação promoção e consolidação de Brasília como destino turístico.

JÉSSICA ANTUNES, DA AGÊNCIA BRASÍLIA | EDIÇÃO: MÔNICA PEDROSO

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